(crónica de Célia Dias Lopes)
O café foi descoberto pela
primeira vez há mais de 1000 anos, e, atualmente, é uma das bebidas mais
ingeridas em todo o mundo.
Apesar dos milhares de anos que
se passaram, ainda há muito mistério e controvérsia sobre os efeitos biológicos
do café e da cafeína.
Assim, hoje, a cafeína é a droga
estimulante mais amplamente usada em todo o mundo, geralmente ingerida sob a
forma de café e chá.
A influência
da cafeína no rendimento desportivo está amplamente estudada, estando
a sua utilização associada a vários tipos de desportos.
No início da década de 70 vários trabalhos
mostravam melhoria no desempenho de exercício físico com a ingestão de cafeína,
o que tornou o seu uso popular como ergogénico.
Após a sua ingestão,
a cafeína é rapidamente absorvida no trato gastrointestinal, para a
corrente sanguínea. As concentrações sanguíneas aumentam de 15 a 45 minutos
após a sua toma, sendo a sua concentração máxima aos 60 minutos. Estes valores
diminuem de 50 a 75% ao fim de 3-6 horas. A cafeína é metabolizada no
fígado e transformada em três subprodutos (paraxantina, teofilina e
teobromina), sendo excretada pela urina.
A cafeína encontra-se em várias
bebidas como o café (uma chávena de café expresso tem cerca de 75mg de
cafeína), chá verde e preto (20 a 40mg e 40 a 60mg por 250mL, respetivamente),
cola (40mg por lata) e bebidas energéticas (a famosa bebida que dá asas tem
80mg por lata). Encontra-se também em alimentos como o chocolate negro
(variando entre 10 a 50mg em 60g de chocolate) e chocolate de leite (10 a 15mg
em 60g deste tipo de chocolate).
Os mecanismos pelos quais a
cafeína melhora o rendimento desportivo ainda não são conhecidos com clareza.
Contudo, acredita-se que se prendam com estimulação da libertação e da
atividade da adrenalina. A cafeína, principal ingrediente do café estimula o
sistema nervoso central através do bloqueio da adenosina, um neurotransmissor
que normalmente provoca um efeito calmante no corpo. A estimulação neural
resultante deste bloqueio faz com que as glândulas supra-renais libertem
adrenalina.
A adrenalina tem efeitos ao nível
do músculo cardíaco, alterações na contratilidade muscular e alterações no
sistema nervoso central, levando a uma menor perceção do esforço ou da fadiga.
Pensa-se que este último fator seja o mais importante e consistente para
explicar a melhoria do rendimento desportivo.
O ritmo cardíaco aumenta, as
pupilas dilatam, os músculos ficam mais tensos e a glicose é libertada na
corrente sanguínea para a energia extra. Fisiologicamente, a cafeína faz-nos
sentir alerta e mais despertos.
A dose ideal para exercer efeito
parece ser de 3 a 6 mg/Kg de peso de cafeína tomados 30 a 90 minutos antes do
exercício, sendo que em doses superiores a 9mg/Kg de peso parece não haver
benefícios adicionais, aumentando a probabilidade de efeitos adversos, como
taquicardia, cefaleias e distúrbios gastrointestinais.
Tendo em conta a variabilidade de
resposta à dose de cafeína (variando também com o grau de habituação a esta
substância), aconselha-se que cada atleta teste a dose mais apropriada para si.
A magnitude e duração do efeito
ergogénico parece ser superior em indivíduos que não consomem regularmente
cafeína.
Em geral a cafeína não parece ter
efeitos adversos graves.
Muitas vezes a cafeina aparece
associada ao aumento do número de micções urinárias e naturalmente à
desidratação. Todavia, investigações recentes não demonstraram qualquer
associação entre o total de água corporal e a ingestão de cafeína.
A cafeína pode causar distúrbios
na qualidade do sono, que pode interferir na boa recuperação do atleta.
A interrupção do seu consumo
crónico pode levar ao aparecimento de síndrome de abstinência, originando
sintomas como cefaleias, irritabilidade, fadiga, sonolência, diminuição do
estado de alerta e dificuldade de concentração.
A Cafeina é dopante?
A cafeína foi removida da lista
de substâncias proibidas no desporto em janeiro de 2004 pela Agência Mundial
Antidopagem. Permitindo assim que os atletas a possam consumir no dia-a-dia ou
utilizar com o objetivo de melhorar o rendimento desportivo, sem serem
sancionados.
Célia Dias Lopes é dietista.
Licenciada em Dietética desde 1997 e pós-graduada em Saúde, Aconselhamento e Tendências de Consumo, ambos pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.
Sócio-gerente da empresa NutriCuida Consultoria e Nutrição, Lda.
É formadora e consultora na área da nutrição. Autora de inúmeras comunicações em congressos.
Autora do Livro " a e i o u da dieta saudável do doente em hemodiálise".
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas e da Ordem dos Nutricionistas.
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