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terça-feira, 14 de agosto de 2018

Distensão e rotura muscular, o que fazer…


(crónica de Tânia Santo)

As lesões musculares são das mais frequentes no desporto, afectando praticantes amadores e atletas profissionais.
Frequentemente resultam de um processo de fadiga muscular.
As lesões musculares resultantes de actividades desportivas podem depender de factores, relacionados com as características individuais e biológicas, e/ou de factores de relacionados com o meio ambiente (piso, equipamento, condições climáticas, entre outos).
A distensão muscular é uma lesão indirecta. Resulta de um alongamento excessivo das fibras musculares para lá da sua capacidade normal de trabalho, decorrente de ciclos intensos de contracção e relaxamento do músculo envolvido.
Os músculos posteriores e anteriores da coxa, a musculatura interna da mesma e os gémeos, são os mais susceptíveis a esta lesão, também conhecida por estiramento muscular.
A classificação das lesões musculares tem variado ao longo do tempo mas, de um modo geral, baseia-se na gravidade da lesão, ou seja, na quantidade de tecido afectado e na perda funcional.
Consideram-se 3 graus:
I - onde não existe lesão muscular apreciável;
II - com lesão muscular e redução na força muscular;
III - com rotura completa e total perda de função do músculo afectado.

Sintomas das distensões e roturas musculares

O sintoma mais característico é uma dor intensa no músculo, seguida de compromisso da função muscular a ponto de implicar a interrupção da actividade.
Como se referiu, as distensões podem ser classificadas de acordo com as dimensões da lesão, sendo os sintomas diferentes em cada caso:
Grau I – estiramento/distensão de uma pequena quantidade de fibras musculares (< 5% do músculo). A dor ocorre num ponto específico, surge durante a contracção muscular contra uma resistência e pode estar ausente durante o repouso. O inchaço pode estar presente, mas, de um modo geral não é evidente. Ocorrem danos estruturais mínimos, a hemorragia é pequena, a resolução é rápida e a limitação funcional é leve. Apresenta bom prognóstico e a restauração das fibras é relativamente rápida.
Grau II – o número de fibras lesionadas e a gravidade da lesão são maiores ( > 5 e < 50% do músculo), com as mesmas características da lesão de primeiro grau, porém com maior intensidade. Acompanha-se de dor, moderada hemorragia, processo inflamatório local mais acentuado e redução da função muscular. A resolução é mais lenta.
Grau III - ocorre uma rotura completa do músculo ou de grande parte dele (> 50% do músculo), resultando numa importante perda da função com presença de um defeito palpável. A dor pode variar de moderada a muito intensa, provocada pela contracção muscular passiva. O inchaço e a hemorragia são grandes.
Uma rotura completa é muito rara, sendo as roturas subtotais mais frequentes. 

Diagnóstico dos estiramentos e roturas musculares

O diagnóstico é essencialmente clínico, sendo complementado por meios complementares de diagnóstico.

Factores de risco

Factores como a fadiga muscular e a presença de lesões prévias devem ser considerados na prevenção das distensões e roturas musculares.
Existem diversos factores de risco para estas lesões:
Deficiências de flexibilidade,
Desequilíbrios de força entre músculos de acções opostas (agonistas e antagonistas),
Lesões musculares antigas,
Distúrbios nutricionais e hormonais,
Infecções,
Factores relacionados com o treino,
Má coordenação de movimentos,
Técnica incorrecta,
Sobrecarga e fadiga muscular,
Má postura durante a execução do treino,
Discrepância de comprimento dos membros inferiores,
Diminuição da amplitude de movimento e 
Insuficiência no aquecimento inicial antes da prática dos exercícios.

Prevenção das distensões e roturas musculares

As medidas de prevenção são importantes tanto para as crianças como para os adultos que se envolvem em práticas desportivas. De facto, as crianças apresentam um risco mais elevado de lesão mas estas lesões tendem a ser mais graves nos adultos. 
Assim o básico, o aquecimento é crucial em qualquer idade, bem como a utilização de equipamento adequado.
O nível de actividade deve ser aumentado de forma gradual e todo o corpo deve ser exercitado, o que permite evitar as lesões musculares e melhorar a resistência, força e flexibilidade.
Os limites de resistência individuais devem ser respeitados, sendo perigoso procurar ultrapassá-los. É importante não praticar desporto quando se está doente ou debilitado.

Tratamento dos estiramentos e roturas musculares

A aplicação de gelo na região afectada em ciclos de 10 minutos, através de bolsa envolvida por tecido para protecção da pele, e o recurso a uma compressão do local atingido são importantes medidas de tratamento (PRICE: Protecção, Repouso, Gelo, Compressão e Elevação). O membro deve permanecer elevado e em repouso, devendo o período de imobilização ser o mais curto possível de modo a se evitar a perda de força muscular e de sensibilidade do movimento e evitar fibroses. 
Pode ser associada medicação para controlo da dor e do processo inflamatório (falar com o seu médico).
Todos estes gestos, que visam a diminuição da dor e o controlo do inchaço, podem ser aplicados nas primeiras 24-48 horas. Após este período, recorre-se à fisioterapia para ajudar a regeneração dos tecidos.
Por volta da terceira semana devem iniciar-se os exercícios para recuperação da força muscular e da amplitude de movimento das articulações envolvidas.
A intervenção cirúrgica é necessária em pacientes com grandes hematomas intramusculares, lesões ou roturas completas (grau III) e lesões parciais com mais de metade do músculo.

Fontes:
Familydoctor.org, Dez. 2010
American Orthopaedic Foot & Ankle Society
Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto, 2013
Tiago Lazzaretti Fernandes e col., Lesão muscular - fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e apresentação clínica, Rev Bras Ortop. 2011;46(3):247-55
Murray Heber, Tendinosis vs. Tendonitis
Christina Shatney Tendinosis Vs Tendinitis, The BodyNewsletter, Family Physical Therapy Services, Inc., 2, 2000
Fernando Fonseca, Lesões tendinosas no desporto, Actualidades terapêuticas; Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Janeiro de 2011
Nicola Maffulli e col., Types and epidemiology of tendinopathy, Clin Sports Med 22 (2003) 675– 692
Hans-Wilhelm Mueller-Wohlfahrt e col., Terminology and classification of muscle injuries in sport: a consensus statement, Br J Sports Med, 18 October 2012 

Tânia Santo
fisioterapeuta
ACeS Médio Tejo
Prática privada Clinipé 

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