Páginas

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O Defeso


(crónica de Nuno Gomes)

Encontramo-nos no período em que os clubes do nosso concelho não têm competição oficial, a esse período denominamos: o defeso.

Altura esta em que apesar de a bola não rolar, há imenso trabalho a desenvolver tendo em vista o planeamento da próxima época desportiva. Nos escalões de formação projeta-se a organização dos diferentes escalões, com especial ênfase para a restruturação dos jogadores, diretores e das equipas técnicas. Os clubes tentam, por norma, manter os treinadores com os respetivos escalões, ou seja, se a base da estrutura da equipa subir de escalão, o mesmo acontece à equipa técnica… Há exceções, obviamente.

Um dos motivos para isso acontecer está relacionado com o processo de organização interno do clube e, mais uma vez reforço que há exceções, com a ligação pessoal e familiar que os elementos do staff (de treinadores a diretores) têm com os jogadores.

Com isto não quero deslustrar o trabalho de quem colabora, independentemente do cargo, no associativismo do “nosso” futebol concelhio, mas sim sublinhar a excessiva dependência dos clubes nestas situações familiares/pessoais.


Caminhando para o defeso, se as situações que supracitei são mais comuns na organização do futebol de 7, nos outros escalões as dinâmicas estão, maioritariamente, relacionadas com a organização dos plantéis.

Já escrevi anteriormente no número de equipas com futebol de 11 existentes no nosso concelho, se na época desportiva 16/17 competiram as equipas do Sport Abrantes e Benfica, Tramagal Sport União, Clube Desportivo e Recreativo de Alferrarede "Os Dragões" e o Núcleo Sportinguista de Alferrarede, referindo-me somente à formação no futebol de 11, a Casa do Povo do Pego está a estruturar a sua organização para a criação de mais um escalão, os iniciados.

 Na componente lúdica saúdo a criação de mais uma equipa, neste caso escalão, bom era que todas as equipas tivessem todos os escalões, o problema entronca na finalidade competitiva…

Este período é onde o telefone dos pais/encarregados de educação, e até mesmo dos jovens atletas, mais toca, cada clube tem a intenção deliberada, e elementar, de ter os plantéis os mais competitivos possíveis, o problema é que por vezes a abordagem ou a forma como ela é feita cria clivagens institucionais que em nada favorecem o desenvolvimento do futebol concelhio e em determinados casos a evolução do próprio atleta.


Estabelecido pela Federação Portuguesa de Futebol, o novo regime de transferências, que consiste na reintrodução de uma taxa a ser paga aos clubes em caso de transferências de atletas. Sumariamente a mesma consistem, além da taxa, o valor de 37,50€ será para o clube do qual o atleta se transferiu, se para o mesmo, e do mesmo, se transferir um segundo atleta o valor será multiplicado por 3 (Ex: 37,50X3), se seis jogadores se transferirem de um clube para outro (reforço que vão todos para o mesmo clube independentemente do escalão), o valor da sexta transferência será multiplicado por 36 (Ex: 37,50X36).

Caro leitor, façamos o seguinte raciocínio lógico, demonstra-me a experiência que no passado aquando das transferências entre jogadores de formação, relembro que vigorava as designadas taxas de compensação onde os valores variavam entre os 100 e os 3000€, a política dos clubes, dado que não tinham capacidade financeira para tal, era a de colocar os pais a negociar com a direção a desvinculação da carta sem custos ou, quando os clubes queriam ser ressarcidos financeiramente, serem os próprios pais a custear a transferência. Preconizo que com a implementação das novas regulamentações o “caminho” será idêntico… Se o for e custeando os pais as taxas de transferências, quem pagará o quê? Um pagará os 37,50€? Outro pagará X3? Outro X6? O que tenho a certeza é que, sem me focar somente nas questões financeiras, será motivo para a criação de “velhos” mas muitos problemas.


Na estruturação do futebol sénior, o trabalho também é árduo nesta fase.

O foco da direção, e equipa técnica, está na organização do plantel, contratação de jogadores. Salvo raras exceções, actualmente, os clubes não conseguem pagar subsídios aos jogadores, prometendo condições de trabalho ao nível das infraestruturas ou forma de custear as deslocações dos atletas.

Essa situação torna difícil aos clubes a composição de planteis em quantidade e qualidade, a nossa sorte ainda vai sendo que ao nível da quantidade ainda somos um concelho rico em termos de jogadores, a qualidade já é uma realidade diferente…

Mas nem por isso deixa de haver problemas entre clubes, e pessoas, nesta fase.

Com a finalidade de dotar os planteis de acordo com os objetivos delineados, por vezes, assumem-se compromissos verbais com os jogadores para os quais o clube não está preparado para cumprir.

Este ponto leva inclusive a que jogadores após terem assumido um compromisso com um determinado clube, na defesa dos seus interesses pessoais, mudem de ideias e de clube. Esta situação é recorrente no nosso concelho.  


Como nem só de problemas vive o nosso concelho quero desejar, sem exceção, a todas as equipas que participam nas diversas competições, desde as organizadas pela Associação de Futebol de Santarém até às da Taça Fundação Inatel, uma ativa participação desportiva na época 17/18 e que consigam alcançar os seus objetivos em prol de um concelho mais forte e organizado.

Nuno Gomes 
Licenciado em Ciências do Desporto - Motricidade Humana; pelo ISEIT-Piaget
Mestrando em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário; ISEIT-Piaget
Treinador de Futebol na Academia Winning League Luis Figo - China
Pós Graduação - Direcção Técnica em Futebol - Universidade Lusófona

Sem comentários:

Enviar um comentário