Páginas

domingo, 10 de julho de 2016

Vamos lá Portugal


(crónica de Nuno Gomes)

Pela primeira vez estou a assistir a uma grande competição de futebol como emigrante.

Agora, futebolisticamente falando, consigo perceber o sentimento de que a distância aumenta a emoção.

Apesar de ser em alguns momentos difícil assistir aos jogos da nossa seleção em direto ou na íntegra, porque devido ao fuso horário, os jogos de Portugal são transmitidos às 3 da manhã e por vezes tenho treino às 8…Tem sido com grande orgulho que tenho acompanhado a nossa caminhada neste Campeonato da Europa de Futebol, a decorrer em França.

Aquando da entrada do Mister Fernando Santos a seleção encetou uma série de bons resultados assentes num futebol prático, vertical e bastante eficaz. Com uma série de bons resultados, que se sobrepunham às exibições, conseguimos alcançar o primeiro objetivo: o apuramento para o Campeonato da Europa.


Nunca um selecionador nacional, que eu me lembre, tinha sido tão elucidativo no assumir dos objetivos a atingir. Nós, Portugueses, emaranhados pelo espírito festivo e confiante que antecede qualquer competição desportiva, principalmente no futebol, confiámos nas palavras e na qualidade patenteada pelos jogadores, na dinâmica de grupo “imposta” pela equipa técnica e, quando o coletivo não conseguisse prevalecer, que o melhor do mundo o fizesse…

Chegado o primeiro jogo, nesse dia “senti-me” em Portugal… Passei grande parte do dia à procura de notícias sobre a equipa, comentários, nervosismo, expetativa, mas pronto para, pela primeira vez na minha vida, assistir a um jogo da nossa seleção às 3 da manhã.

Primeira parte com alguma qualidade, mas essencialmente um aspeto que viria a caracterizar toda a fase de apuramento: prioridade à consistência defensiva, com e sem bola, relegando para segundo plano a nota artística…


O segundo jogo, na minha opinião, teve características similares ao primeiro. Jogado a um ritmo lento, com poucas oportunidades de golo, Portugal a apresentar um futebol lento nas transições, jogadores adaptados ao sistema e não o contrário… e à boa maneira Portuguesa, as dúvidas começavam a adensar-se. Neste jogo tive uma particularidade bastante difícil, com o jogo mais uma vez a ter início às 3 da manhã e eu a ter de começar o meu treino às 8, foi uma difícil noite quase em branco.

Nesta altura veio a grande capacidade de liderança do nosso mister. Quem acreditou nas palavras dele quando referiu que só voltaria a Portugal no dia 11 e iria ser recebido em festa? Nem os mais otimistas…

Apesar de mais um empate continuávamos a depender de nós para a passagem à fase seguinte e conseguimo-lo com mais um empate…


Croácia…

O adversário teoricamente mais difícil que Portugal encontrou até à altura, para mim juntamente com Itália, tinha sido a seleção que melhor futebol tinha apresentado, futebol de posse com grande dinâmica intermédia e ofensiva e intérpretes de qualidade mundial, duro adversário, mas mais uma vez o coletivo fez a diferença e passámos.

Eis a Polónia e País de Gales e “ de repente” estamos na final.

Gostaria de destacar alguns pontos que considerei importantes nesta caminhada até à final:

A equipa técnica de Portugal – Liderada pelo Mister Fernando Santos, a seleção tem demonstrado ser um verdadeiro grupo, de forma serena e inteligente tem conseguido que jogadores como Quaresma ou Ronaldo coloquem o seu ego abaixo dos interesses coletivos e isso tem sido determinante.

O Apoio dos Portugueses – Imagino a festa que os Portugueses têm feito nestas últimas semanas, imagino a minha cidade (Saudades..). Os emigrantes, aqui em Shenzhen posso garantir-vos que há Chineses que já vestem a camisola da seleção, eu próprio comprei um equipamento para vestir na final, espero que dê sorte…

Revelações e certezas – Sendo o coletivo a nota de maior destaque, há alguns atletas na minha opinião que têm sobressaído, um Rui Patrício seguríssimo e confiante a jogar com os pés, na zona defensiva Pepe um “monstro” de classe mundial, Raphael Guerreiro que apesar de algumas limitações musculares tem sido um lateral moderno, defende bem, qualidade técnica, com propensão ofensiva e grande qualidade nos cruzamentos e bolas paradas. Na zona intermédia Renato Sanches porque o seu atrevimento com bola solta um pouco a equipa das amarras táticas (penso que seja por indicação do mister), tem sido o médio que mais vezes se aproxima da zona ofensiva para jogar nos apoios ou finalizar tal como fez no golo contra a Polónia. Outro jogador que tem sido de extrema importância é João Mário, apesar de passar algum tempo a jogar de fora para dentro (as características dele pedem o contrário), é um jogador muito inteligente com bola e na ocupação racional dos espaços.


O aspeto menos positivo, salvo o jogo com o País de Gales, tem sido a nossa consistência exibicional, fez-nos desacreditar em alguns momentos que era impossível chegar à final.

Um 4-4-2 com algumas variantes para o 4-3-3, onde como já escrevi anteriormente, os jogadores foram adaptados às características do sistema e dos adversários, laterais com pouca profundidade ofensiva e quando chegavam à zona de cruzamento tínhamos um ou nenhum jogador para finalizar, médios excessivamente condicionados pelas movimentações adversárias e colocados no espaço de forma a cortar linhas, e muitas vezes a serem obrigados a jogar de costas para a baliza numa zona central ou a jogar bastante afastados da baliza adversária algo que não é a “praia” deles…

Mas, para felicidade dos Portugueses e principalmente daqueles que gostam de desporto e de futebol o cinzentismo do nosso futebol já começou a ganhar cor no jogo das meias-finais e o nosso sonho poderá tornar-se real pois como disse o Mister Fernando Santos:

“…As finais não se jogam…ganham-se..”

Vamos lá, Portugal!!!


Todos os dias uma aprendizagem, uma aprendizagem diária.

Nuno Gomes 
Licenciado em Ciências do Desporto - Motricidade Humana; pelo ISEIT-Piaget
Mestrando em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário; ISEIT-Piaget
Treinador de Futebol na Academia Winning League Luis Figo - China

Sem comentários:

Enviar um comentário