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quarta-feira, 15 de junho de 2016

Carta Aberta à Francisca Laia



Olá Francisca, 

um convite para falar sobre ti, sobre o apuramento para os jogos olímpicos, ... 
Contente e ainda um pouco sem saber verdadeiramente o que pensar, o que dizer, aceitei, ...
  
E então tenho tentado reviver um pouco todo o teu percurso desde que te conheço, desde que te vi nascer. E conheço-te desde muito tenra idade, … tive a felicidade de ouvir o teu primeiro choro, … tu sabes isso, … contei-to, … sou teu pai e para além disso tive o prazer de te ensinar a “remar/pagaiar”, ainda muito cedo; tão cedo que nem tu te deves recordar. 

Por vezes relembro esses primeiros momentos, as horas infindáveis que juntos passámos nas águas da albufeira do Castelo do Bode, onde tanta coisa aprendeste, … e então se fosse possível sentires o mesmo que eu! … 

Jogos Olímpicos, quão doces são essas palavras no meu pensamento. Tão longínquas há tão pouco tempo e tão próximas “hoje”. 
O sonho realizou-se, aquele que muitas vezes partilhámos, tu com seis, sete anos; sentados no sofá a ver televisão, devoravas ainda pequena tudo o que de desporto dava no canal 2, - campeonatos europeus, campeonatos do mundo, meetings de atletismo, - e ficávamos ali toda a tarde a ver, … tu sabias tudo, os resultados, os nomes dos atletas e surpreendias-me por vezes com comentários pouco próprios para a tua idade, a revelarem já um pouco esta tua paixão pelo desporto. 

Desde então fiquei “motivado” para te ajudar para te guiar nesta tua caminhada. 
Mas, ... Que fazer? Como te “guiar”, como te ajudar nessa idade, ... Como te conduzir nos aspectos da multilateralidade e fugir de uma especialização demasiado precoce? Como “fugir” às relações familiares, deixando-te com “outros”, … como passar para segundo plano, mantendo uma retaguarda sustentada? 

Hoje, e olhando para trás, parece até que foi fácil, mas ficam as recordações das “incertezas”, das viagens de madrugada a caminho de Montemor-o-Velho, do frio e do gelo a quebrar na relva, quando te deixava a ti, ao António e outros, por vezes à beira do Mondego, rio onde aprendi a fazer canoagem; ... ficam as palavras que dissemos e não dissemos quando regressávamos por vezes, ... tu cansada e a dormir ao meu lado, enroscada no banco, … de mim nesses momentos, apenas querias que te trouxesse para casa, mais nada. Na noite, o pensamento, ... levava-me então por “torturas”, que eu mesmo queria afastar, mas a tua “atitude”, o teu “querer”, o sentimento, o gosto de conquistar algo, o “amor” por este desporto, a “canoagem”, por ali andavam e logo tomavam conta de mim. 

Agora, … cresceste, aprendeste, realizaste o teu sonho, ... mas nada se consegue sozinho, por isso quero aqui deixar o meu muito obrigado a todos os que de alguma forma nos ajudaram neste “caminho”; sem estas pessoas ao nosso lado nada se teria conseguido, - já que heróis e como muita vez digo: só em filme. 
Para além dos que te estão mais próximos, atletas, dirigentes e treinadores do CD “Os Patos”, não esqueço as gentes do Rossio ao Sul do Tejo que sempre nos acompanharam nas manhãs frias ou tardes encaloradas com os seus comentários, ora de surpresa, ora de agrado pelo Tejo, … o seu querido rio estar a ser “utilizado”. 
Muito mais poderia relembrar, mas o tempo e o espaço a isso não são favoráveis, por isso aqui fica ainda um agradecimento especial a Abrantes, a tua cidade, onde agora vens geralmente para descansar e usufruir da “camaradagem” dos teus amigos; para os treinadores, Alexandre Lamaroso, José Miguel Trigo, Pedro Coelho, assim como para os canoístas e atletas José Damas, Rui Moleiro, Hélder Correia, António Silva, Faustino Reis, Armindo Mateus, Alfredo Margarido, que tal como tantos outros fizeram e fazem parte do teu "registo", do teu “imaginário” canoístico, … mas também, quem poderia esquecer: a tua Mãe, que sempre te compreendeu tão bem e fez a parte de “casa”: a roupa lavada a tempo e horas, os cuidados com a comida, ... “timoneira afável” no “mimo” que por vezes também é preciso; 

passando por Mário Santos, Secretário-geral Jogos Europeus Universitários 2018 e Conselheiro do Conselho Nacional do Desporto [“Olá Kika. Lembro-me de uma menina franzina e muito determinada que não se conformava com segundos lugares. Tive o prazer de assistir a uma evolução surpreendente e consistente, como atleta e como mulher. É inspirador viver momentos de superação e excelência. Os resultados desportivos são sempre efémeros mas os bons exemplos são para a vida. E tu tens sido um bom exemplo!”], 

José Garcia, Chefe da Missão Olímpica Rio 2016 [“Algumas palavras... Olá Kika, Vamos ficando cada vez mais velhos e erramos vendo-vos como os pequenotes que "ontem" conhecemos. Já não és "pequena", és grande! Serás cada vez maior e um orgulho para todos nós Canoístas, Desportistas e Portugueses. Que em agosto 2016, no Rio de Janeiro, concretizes todos os teus sonhos olímpicos que são também os da tua família, a quem envio os meus parabéns pela mulher que criaram e pelo feito realizado. Um forte abraço 5 anéis”] 

Ryszard Hope, Seleccionador Nacional FPC, [“Kika tem as qualidades de grandes atletas: inteligência, talento, ambição, concentração 100%; realiza plano de preparação. Tem a qualidade de confiar plenamente nos treinadores. Como treinador, eu posso vê-la numa grande carreira. Aprecio sua habilidade de combinar treino duro com os estudos. Temos um bom relacionamento na linha de treinador-atleta. É muito Sociável. É muito querida pelos atletas, dentro e fora de Portugal”]. 

A finalizar, como teu pai, confidente, e outras coisas mais, por vezes, desejo-te a melhor “sorte” do mundo, … e à semelhança deste, que todos os teus sonhos se realizem, embora sabendo que sem trabalho nada se consegue.

João Laia, pai da Francisca.

3 comentários:

  1. Parabéns também ao excelente pai que tem a sua filha...Pai e Mãe são como os pilares de uma casa bem construída se não forem fortes não dá bom resultado não é?

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  2. Bonita história, plena de emoção de um grande pai que se entregou sem reservas à conquista de um sonho partilhado com a sua enorme filha. Parabéns a ambos... merecem ser felizes!

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  3. Grande Joao, grande homenagem e grande orgulho demonstrado. Sinto as tuas palavras como se minhas fossem, dirigidas à minha ainda pequena filhota, mas que já tão grandes sonhos tem.. À Kika só posso desejar sorte pq tudo o resto já tem.

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