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quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Nem todas as gorduras são lobo em pele de cordeiro


(crónica de Célia Dias Lopes)

Se perguntarmos às pessoas qual destes nutrientes: proteínas, hidratos de carbono e gorduras é o mais prejudicial, é natural que respondam as gorduras. No entanto não é verdade, se não consumirmos gorduras é muito mau.

A gordura tem sido sempre um pilar fundamental da nossa nutrição. Fornecem os ácidos gordos essenciais que não podem ser sintetizados pelo nosso organismo, são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes e para a manutenção do estado de saúde, físico e mental de adultos.

Certas vitaminas, como a A, D, E e K, precisam de gordura para serem absorvidas adequadamente pelo organismo, razão pela qual a gordura alimentar é necessária para transportar estas vitaminas lipossolúveis. Uma vez que estas vitaminas não se dissolvem com água, só podem ser absorvidas pelo intestino delgado em associação às gorduras. Sem vitamina K suficiente, por exemplo, não seria possível parar o sangue quando sofre uma ferida, e poderia ter até sangramentos espontâneos (imagine este fenómeno a ocorrer no cérebro). 

A maioria das recomendações sugere, hoje em dia, que o consumo diário de gorduras não deve exceder os 30% do valor energético diário total ingerido, das quais, menos de 10% devem provir de gorduras saturadas. O que significa que os restantes 20% das calorias devem derivar, das gorduras mono e polinsaturadas. É também importante minimizar o consumo das gorduras trans (menos de 1%).

Isto significa que, o que precisamos é de estar cientes da quantidade a ingerir e do tipo de gorduras que devemos consumir.

No entanto quando as gorduras são consumidas em excesso e desregradamente os efeitos prejudiciais são muitos e rapidamente se fazem sentir no nosso estado de saúde.

As gorduras insaturadas são reconhecidas como “gorduras boas” e há dois tipos: monoinsaturadas e polinsaturadas. As gorduras monoinsaturadas encontram-se, por exemplo no azeite, óleo de amendoim, frutos oleaginosos (ex.: nozes, amêndoa, amendoim, avelã, etc…), azeitonas e abacate. As gorduras polinsaturadas encontram-se, por exemplo nos peixes gordos como o salmão, sardinhas, cavala, óleos vegetais, frutos oleaginosos, cereais integrais e hortícolas de cor verde escura.

Gorduras menos saudáveis, há dois tipos: gorduras saturadas e gorduras trans. As gorduras  saturadas encontram-se, por exemplo na manteiga, natas, carnes vermelhas, carnes gordas e enchidos, queijos, leite gordo, iogurtes gordos, óleo de palma e óleo de coco.

As gorduras trans são o verdadeiro “lobo”, também designadas como gorduras hidrogenadas.  As gorduras hidrogenadas não existem na natureza. São produzidas em laboratório e têm efeitos nocivos para a saúde.

Já alguma vez viu a designação trans nos rótulos de alguns alimentos e ficou a pensar o que queria dizer?

Quando ler na lista de ingredientes as palavras gorduras hidrogenadas ou parcialmente hidrogenadas, pense logo no veneno que está ali dentro daquele alimento.

Os óleos vegetais são frequentemente submetidos ao processo de hidrogenação pela indústria alimentar, o que faz com que estes passem do estado líquido para o estado sólido. Com este processo pretende-se obter uma gordura consistente e macia que é mais fácil de usar na produção alimentar. Esta gordura atribui-lhes um sabor apreciado pelos consumidores.

A hidrogenação dos ácidos gordos polinsaturados é um dos processos que induz a formação dos prejudiciais ácidos gordos trans.

Na prática deve evitar alimentos fabricados com gorduras hidrogenadas ou parcialmente hidrogenadas. É muito frequente encontrar este tipo de gordura na confeção de produtos de pastelaria e confeitaria, pão de forma de produção industrial, bolachas, biscoitos, fast-food, batatas fritas de pacote, aperitivos, refeições prontas a consumir e em algumas margarinas/cremes vegetais de barras.

Sabe-se que estas gorduras são mais prejudiciais que as gorduras saturadas. As gorduras trans são causadoras de cancro, aumento de colesterol, maior incidência de doenças cardíacas e vasculares. Podem aumentar em 45 por cento, o risco cancro da mama.

A conclusão mais importante é que a alimentação mais saudável para todas as idades é aquela que inclui alimentos que contenham gorduras saudáveis desde que consumidas nas proporções adequadas.

Célia Dias Lopes é dietista. 
Licenciada em Dietética desde 1997 e pós-graduada em Saúde, Aconselhamento e Tendências de Consumo, ambos pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.
Sócio-gerente da empresa NutriCuida Consultoria e Nutrição, Lda.
É formadora e consultora na área da nutrição. Autora de inúmeras comunicações em congressos.
Autora do Livro " a e i o u da dieta saudável do doente em hemodiálise".
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas e da Ordem dos Nutricionistas.

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