(crónica de Nuno Gil)
O ser
humano é um animal de movimento, no entanto hoje está a ficar enclausurado pelo
crescente apelo à inatividade. Os avanços tecnológicos, que possibilitaram o
aumento dos tempos livres e de lazer, retiraram também a estes momentos da
prática de atividade física.
Atualmente,
o número de casos de obesidade está a aumentar, assim como o número de
pré-obesos, o que por si é já um fenómeno preocupante, mas mais preocupante é
quando este aumento se deve em especial aos casos existentes na população
infanto-juvenil. Para além da perda de qualidade de vida destas pessoas, os
custos de tratamento das mesmas é abismal.
E
perante tais factos o que faz o governo da república portuguesa? Quase nada.
Quantas
campanhas de prevenção desta doença conhecemos? Poucas ou nenhumas.
Também a
escola, espaço de eleição para a divulgação e fomento de boas práticas, parece
acompanhar a sociedade, retirando importância à atividade física.
Em
termos curriculares, assiste-se a uma desvalorização da disciplina de educação
física, ao permitir que nos últimos anos se tenha diminuído de carga horária da
disciplina, quando o que devia ter acontecido era precisamente o contrário, em
especial no segundo e terceiro ciclo do ensino básico.
Também
no primeiro ciclo, fase extraordinariamente favorável ao fomento de hábitos, a
disciplina tem sido relegada para segundo plano, havendo mesmo em muitos casos
a substituição da expressão físico motora (obrigatória) pela atividade físico
motora dinamizada nas atividades de extensão curricular (facultativa), num
claro atentado ao desenvolvimento integral dos alunos portugueses.
E para
não contrariar o sentido negativo das medidas adotadas pelo ministério da
educação, também desporto escolar, outro meio fundamental para o fomento de
boas práticas, tem vindo a assistir ao longo dos últimos anos a cortes na sua
carga horária.
Uma das
poucas iniciativas positivas do ministério de educação, é o programa de
educação para a saúde, que se desenvolve em todas as escolas. Contudo algumas escolas organizam-se de forma a que o
programa funcione sem a presença de qualquer elemento da área
disciplinar de educação física e mais grave sem qualquer atividade de fomento
da atividade física no seu plano, numa completa desvalorização da função desta
área na promoção da saúde.
Outra
medida de desvalorização da disciplina de educação física, levada a cabo pelo
ministério de educação, foi a saída da classificação da disciplina da média de
acesso ao ensino superior, facto este que até hoje não foi devidamente
explicado, e que levou em muitos casos a uma sobredesvalorização da
importância da atividade física e do movimento por parte de muitos alunos, sob
pretexto de terem de investir nas áreas que contam para a média.
Alguns
dos leitores, estarão nesta altura a dizer que isto é conversa de professor de
educação física a defender a sua “tasquinha”, mas podem ter a certeza que não o
é. E na expetativa de promover um agitar de consciências vou deixar aqui alguns
dados, que recuperarei em crónicas futuras, sobre os quais não podemos ficar
indiferentes.
•
Para cada euro investido em programas de promoção da saúde
envolvendo a actividade física verifica-se uma redução de 4,9 euros nos custos
com o absentismo e de 3,4 euros com os cuidados de saúde. American Association for World Health
•
De acordo com os modelos mais recentes, os benefícios
na saúde, nomeadamente para a prevenção das doenças crónicas, podem ser obtidos através
de uma actividade física moderada, acumulada, num mínimo de 30 minutos diários, na maioria dos dias
da semana. Recomendações
da Organização Mundial de
Saúde
•
Os jovens em idade escolar devem participar
diariamente em 60 minutos, ou mais, de actividades de intensidade moderada a
vigorosa, sob formas adequadas do ponto de vista do crescimento, divertidas e
que envolvam uma variedade de actividades. Recomendações
da Organização Mundial de
Saúde
•
O desenvolvimento da actividade física e desporto para
todos pode trazer benefícios
sócio-económicos
em termos de redução de
custos de saúde (2,4% a 6,4% do custo total do sistema de saúde) redução
de custos sociais (como a delinquência
juvenil), aumento da produtividade, mais oportunidades de emprego, melhor
integração social, ambientes mais saudáveis, melhor aproveitamento escolar,
participação no desporto e recreação mais elevada em consequência melhores resultados desportivos. American Association for World Health
Votos de
pensamentos positivos, saudações desportivas e até à próxima crónica.
Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo
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