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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Atividade Física - O Papel da Escola?


(crónica de Nuno Gil)

O ser humano é um animal de movimento, no entanto hoje está a ficar enclausurado pelo crescente apelo à inatividade. Os avanços tecnológicos, que possibilitaram o aumento dos tempos livres e de lazer, retiraram também a estes momentos da prática de atividade física.

Atualmente, o número de casos de obesidade está a aumentar, assim como o número de pré-obesos, o que por si é já um fenómeno preocupante, mas mais preocupante é quando este aumento se deve em especial aos casos existentes na população infanto-juvenil. Para além da perda de qualidade de vida destas pessoas, os custos de tratamento das mesmas é abismal.

E perante tais factos o que faz o governo da república portuguesa? Quase nada.

Quantas campanhas de prevenção desta doença conhecemos? Poucas ou nenhumas.

Também a escola, espaço de eleição para a divulgação e fomento de boas práticas, parece acompanhar a sociedade, retirando importância à atividade física.

Em termos curriculares, assiste-se a uma desvalorização da disciplina de educação física, ao permitir que nos últimos anos se tenha diminuído de carga horária da disciplina, quando o que devia ter acontecido era precisamente o contrário, em especial no segundo e terceiro ciclo do ensino básico.

Também no primeiro ciclo, fase extraordinariamente favorável ao fomento de hábitos, a disciplina tem sido relegada para segundo plano, havendo mesmo em muitos casos a substituição da expressão físico motora (obrigatória) pela atividade físico motora dinamizada nas atividades de extensão curricular (facultativa), num claro atentado ao desenvolvimento integral dos alunos portugueses.

E para não contrariar o sentido negativo das medidas adotadas pelo ministério da educação, também desporto escolar, outro meio fundamental para o fomento de boas práticas, tem vindo a assistir ao longo dos últimos anos a cortes na sua carga horária.

Uma das poucas iniciativas positivas do ministério de educação, é o programa de educação para a saúde, que se desenvolve em todas as escolas. Contudo algumas escolas organizam-se de forma a que o  programa funcione sem a presença de qualquer elemento da área disciplinar de educação física e mais grave sem qualquer atividade de fomento da atividade física no seu plano, numa completa desvalorização da função desta área na promoção da saúde.

Outra medida de desvalorização da disciplina de educação física, levada a cabo pelo ministério de educação, foi a saída da classificação da disciplina da média de acesso ao ensino superior, facto este que até hoje não foi devidamente explicado, e que levou em muitos casos a uma sobredesvalorização da importância da atividade física e do movimento por parte de muitos alunos, sob pretexto de terem de investir nas áreas que contam para a média.

Alguns dos leitores, estarão nesta altura a dizer que isto é conversa de professor de educação física a defender a sua “tasquinha”, mas podem ter a certeza que não o é. E na expetativa de promover um agitar de consciências vou deixar aqui alguns dados, que recuperarei em crónicas futuras, sobre os quais não podemos ficar indiferentes.

   Para cada euro investido em programas de promoção da saúde envolvendo a actividade física verifica-se uma redução de 4,9 euros nos custos com o absentismo e de 3,4 euros com os cuidados de saúde. American Association for World Health
   De acordo com os modelos mais recentes, os benefícios na saúde, nomeadamente para a prevenção das doenças crónicas, podem ser obtidos através de uma actividade física moderada, acumulada, num mínimo de 30 minutos diários, na maioria dos dias da semana.  Recomendações da Organização Mundial de Saúde
   Os jovens em idade escolar devem participar diariamente em 60 minutos, ou mais, de actividades de intensidade moderada a vigorosa, sob formas adequadas do ponto de vista do crescimento, divertidas e que envolvam uma variedade de actividades. Recomendações da Organização Mundial de Saúde
   O desenvolvimento da actividade física e desporto para todos pode trazer benefícios sócio-económicos em termos de redução de custos de saúde (2,4% a 6,4% do custo total do sistema de saúde) redução de custos sociais (como a delinquência juvenil), aumento da produtividade, mais oportunidades de emprego, melhor integração social, ambientes mais saudáveis, melhor aproveitamento escolar, participação no desporto e recreação mais elevada em consequência melhores resultados desportivos. American Association for World Health

Votos de pensamentos positivos, saudações desportivas e até à próxima crónica.

Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo

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