(crónica de Célia Dias Lopes)
Muitos atletas adotam um estilo
de vida vegetariano. Esta decisão pessoal pode ser muito saudável e de forma
alguma incompatível com o sucesso desportivo.
Carl Lewis é considerado um dos
atletas mais rápidos do mundo. Em 1991, bateu o recorde dos 100 metros com um
tempo de 9,86 segundos. É o maior medalhista olímpico de todos os tempos. Carl
Lewis é vegan.
O conceito de vegetarianismo
remonta pelo menos ao século VI A.C., quando Pitágoras, filósofo grego e
matemático, considerado o pai do vegetarianismo, encoraja o consumo de uma
dieta sem carne, mais natural e saudável.
Ser vegetariano é optar por um
tipo de alimentação que exclui carne e peixe da dieta.
As dietas vegetarianas podem ser
tão diversificadas como as dietas convencionais.
Temos que ter em conta que há
diferentes tipos de dietas vegetarianas, havendo substancial diferença
nutricional entre uma dieta ovo-lacto-vegetariana (inclui leite, ovos e
lacticínios) e uma dieta vegan (exclui qualquer alimento de origem animal ou
produzido a partir de animais).
Um desportista vegetariano deve
ser mais consciente das escolhas dos alimentos que fazem, com vista a obter os
níveis de energia, manter as funções imunológicas adequadas, cobrir as
necessidades do treino e recuperação. No caso dos vegan, com dietas com
elevados teores de fibra, a energia disponível vai diminuir pois a maior parte
das fibras não é digerível. Isto pode aumentar o risco de disponibilidade
energética adequada, pelo que os desportistas devem supervisionar o peso e a
composição corporal para garantir que cobrem as suas necessidades energéticas.
Certos atletas podem seguir dieta
vegetariana como meio de reduzir a ingestão de energia com o objetivo de
conseguir o físico adequado.
Geralmente as dietas vegetarianas
contêm menos proteínas que as dietas omnívoras mas conseguem atingir e exceder
as recomendações. Uma dieta vegetariana pode fornecer todos os aminoácidos
essenciais e não essenciais desde que seja diversificada e equilibrada. Atletas
com uma dieta vegan necessitam de especial atenção para poderem suprir
necessidades proteicas. A recomendação proteica para os atletas vegetarianos
ascende aproximadamente os 1,3 a 1,8g / Kg de peso/dia, procedentes de uma
ampla variedade de fontes de proteína vegetais.
Para os vegans, a proteína de
alta qualidade pode ser alcançada por “proteínas complementares”, mas o consumo
de energia precisa de ser o adequado, caso contrário, a proteína é utilizada
para produzir energia.
Alimentos proteicos que se
complementam (combinação entre cereais e leguminosas) devem ser consumidos no
mesmo dia, mas não necessariamente na mesma refeição.
Ainda assim, é importante
encontrar uma fonte de proteína de alta qualidade para consumir na recuperação
de sessões de exercícios e competições chaves. Os lacticínios ou bebidas de
soja podem ser opções adequadas para vegetarianos e vegans, respetivamente.
Se não tiver produtos de origem
animal na sua dieta, os vegetarianos devem ter um cuidado extra de modo a evitar
deficiências de ferro e de vitamina B12, que pode prejudicar o desempenho do
exercício. A ingestão de ferro procedente de fontes vegetais deve combinar-se
com outros alimentos que favoreçam a absorção de ferro, por exemplo, cereais de
pequeno-almoço enriquecidos com ferro consumidos com um alimento rico em
vitamina C (laranja, kiwi, morango, etc…). E evitar alimentos que inibam a
biodisponibilidade do ferro como por exemplo, o leite, iogurte, queijo, chá,
café e coca-cola, ou seja, se juntarmos a este pequeno-almoço algum destes
alimentos vai reduzir a absorção de ferro.
Como a alimentação vegetariana é
inerentemente rica em hidratos de carbono, poderá tornar-se vantajosa em termos
de manutenção e restauração dos níveis de glicogénio (as nossas reservas de
hidratos de carbono) muscular e hepático, essenciais para modalidades de
resistência.
Devem ser incluídos produtos
lácteos ou alimentos enriquecidos em cálcio na dieta para garantir uma ingestão
ótima de cálcio. Devem consumir diariamente 3 porções a partir de uma variedade
de fontes, se dieta lacto-vegetariana produtos lácteos, mas também pode
consumir cálcio a partir do tofu, castanhas, amêndoas, avelãs, bebidas de soja
fortificadas ou bebidas de arroz, vegetais de folha verde (brócolos, espinafre,
rúcula, agrião), leguminosas (ervilhas, feijão, soja, grão de bico, lentilhas e
favas), sementes de sésamo e de linhaça e frutos secos (damasco, ameixa, uvas,
figos). Por vezes há necessidade de suplementar a dieta para assegurar uma
ingestão de cálcio adequada.
As dietas vegetarianas têm menor
teor de gorduras saturadas. No entanto se a ingestão de alimentos, como frutos
oleaginosos e gorduras vegetais, a ingestão total de gorduras pode ser
semelhante à média de uma dieta não vegetariana.
Os atletas vegetarianos também
podem estar em risco devido a uma ingestão baixa de vitamina B2, vitamina D e
zinco, que deverá ser supervisionada e suplementada na dieta caso seja
necessário.
Dietas vegetarianas são ricas em
nutrientes antioxidantes e fotoquímicos que podem ser potentes antioxidantes
podendo reduzir o stress oxidativo.
A alimentação vegetariana pode prevenir
e tratar doenças crónicas incluindo doenças coronárias, cancro, obesidade e
diabetes.
Seria lógico colocar a questão se
estes múltiplos benefícios da dieta vegetariana não poderiam ser transpostos
para a atividade física e sua performance. Porém, tendo em conta que não existe
um número suficiente de trabalhos científicos acerca de dietas vegetarianas em
desportistas, não se podem tirar conclusões definitivas sobre os possíveis
benefícios ou efeitos adversos deste tipo de alimentação no rendimento
desportivo.
Contudo, uma alimentação
vegetariana, em especial a ovo-lacto-vegetariana, parece ser adequada para
atletas desde que corretamente planeada e monitorizada.
Concluindo, a alimentação vegetariana
é uma opção válida para obtenção do máximo rendimento desportivo. Porém, esta
precisa (tal como uma alimentação omnívora) de ser adequada ao desportista em
causa e monitorizada ao longo do tempo.
Célia Dias Lopes é dietista.
Licenciada em Dietética desde 1997 e pós-graduada em Saúde, Aconselhamento e Tendências de Consumo, ambos pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.
Sócio-gerente da empresa NutriCuida Consultoria e Nutrição, Lda.
É formadora e consultora na área da nutrição. Autora de inúmeras comunicações em congressos.
Autora do Livro " a e i o u da dieta saudável do doente em hemodiálise".
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas e da Ordem dos Nutricionistas.
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