(crónica de Nuno Gil)
Depois
de terminar a exposição sobre a primeira etapa do Long-term athlete development – LTAD, vou escrever o primeiro de
vários artigos sobre aquele que considero ser o principal agente de promoção de
sucesso de qualquer projeto desportivo, o treinador.
Mas
afinal o quem é treinador?
Bem, se
treino é o processo que tem como objectivo desenvolver as capacidades de
trabalho do organismo, provocando modificações progressivas a diferentes
níveis, tais como fisiológicas e funcionais (Raposo, 2001), então treinador será a
pessoa que guia todo este processo.
Assim o
treinador, quer seja de adultos, quer seja de jovens, é alguém com funções
importantíssimas no processo de treino, que segundo a Cartilha da prática
desportiva juvenil referenciada por Adelino, Vieira, & Coelho (1999), deve ter uma formação
qualificada e adequada.
De
acordo com Pacheco (2001), o treinador não deverá
continuar a ser o antigo praticante sem qualquer tipo de formação e que apenas
se limita a aplicar a sua experiência na organização e direcção dos treinos. O
treinador deverá então ser uma pessoa com formação e que domine o saber,
o saber fazer e o saber fazer com que os outros façam. O
treinador deve ser uma pessoa com conhecimentos sólidos sobre o desporto e a
modalidade em causa, que goste de trabalhar, que consiga estabelecer uma boa
relação com os jovens, que conheça as diferentes fases do desenvolvimento dos
jovens, e que conheça os métodos e meios mais ajustados ao desenvolvimento
integral dos jovens.
Castelo
& Barreto (1996) referem que o treinador
deverá ser uma pessoa com as seguintes características: ser um técnico
especializado de uma dada modalidade conhecendo as suas diferentes dimensões;
seja um condutor do processo pedagógico que é o treino; seja um gestor de
recursos humanos; e que seja um elemento que contribua, obrigatoriamente, para
a valorização, desenvolvimento e formação da comunidade desportiva que lhe está
subjacente.
Sem
dúvida que para ser treinador, é necessário muitas coisas, conforme referido
anteriormente, contudo no que respeita, às qualificações de quem orienta o
processo de treino, isto é, o treinador, este é um tema bastante complexo, pois
hoje em dia, e infelizmente, em muitos casos, qualquer um é “treinador”, para
isso basta que vista um fato de treino e coloque um apito ao pescoço, e os
jovens, inocentemente, e os pais, inconscientemente, já lhe chamam treinador ou
mesmo professor.
E é
assim que se cometem verdadeiros atentados à formação desportiva e não só, dos
nossos jovens, quando pessoas sem qualquer habilitação ou formação mínima, são
responsáveis por um processo que é bastante complexo, e cuja operacionalização
não é uma atividade inconsequente ou inócua, na formação integral do praticante
enquanto individuo.
A
prática desportiva produz alterações no praticante, visíveis e mensuráveis:
quer ao nível das estruturas orgânicas, quer ao nível das capacidades motoras e
funcionais, quer ainda ao nível da personalidade. Assim, a atividade desportiva
juvenil deverá ser corretamente orientada de forma a proporcionar aos
praticantes um desenvolvimento integral e ajustado ao seu desenvolvimento
natural, isto é, deverá sempre organizar-se como um processo que favoreça a
descoberta e a estimulação das capacidades e qualidades destes, de modo a que
ao longo da sua evolução natural nada se faça que coloque em causa o
crescimento e o desenvolvimento, quer das estruturas orgânicas quer das
capacidades motoras e funcionais, quer ainda das qualidades determinantes da
personalidade de cada praticante. É dentro desta perspectiva que os dirigentes,
os pais e principalmente os treinadores dos nossos jovens praticantes devem
conduzir o seu modo de estar e encarar as atividades desportivas.
Movimento,
esforço, prazer, divertimento, desafio, confronto, e mesmo alguma formalização,
padronização e rendimento, são ingredientes que devem ser sábia e prudentemente
doseados. Caso não o sejam, corremos o risco de deformar e não de formar, que é
o que provavelmente acontece em muitos casos, em que as equipas não são
orientadas por treinadores, mas sim por curiosos a quem os clubes recorrem por
falta de capacidade para ter treinadores, alguns deles apenas porque foram
ex-atletas e julgam ter todos os conhecimentos necessários para poderem treinar
nas diferentes modalidades, o que no caso do treino de jovens é ainda mais
alarmante, pois na generalidade dos casos desconhecem as diferentes fases de
desenvolvimento dos jovens e limitam-se a fazer do treino dos jovens uma cópia
daquilo que foi ou ainda é o seu treino como adultos.
Termino,
deixando uma afirmação, para reflexão: o treinador está para o atleta, como o
médico está para o paciente e como o professor está para o aluno.
Saudações desportivas e até à próxima crónica.
Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo
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