(crónica de Célia Dias Lopes)
Se
antigamente a gordura era formosura e sinal de saúde nas crianças, hoje não é
assim. O excesso de peso na infância e adolescência paga-se caro no futuro.
Estima-se
que em todo o mundo, 155 milhões de crianças em idade escolar têm excesso de
peso ou são obesas, das quais 30 a 45 milhões são obesas, correspondendo a 3%
das crianças entre os 5 e os 17 anos a nível mundial.
Atualmente,
a obesidade é a doença pediátrica mais comum a nível mundial.
Em
Portugal, uma em cada três crianças tem este problema de saúde. Segundo o
estudo 2013-2014 da APCOI (Associação Portuguesa Contra Obesidade Infantil) que
contou com 18.374 crianças (uma das maiores amostras neste tipo de
investigação): 33,3% das crianças entre os 2 e os 12 anos têm excesso de peso,
das quais 16,8% são obesas. De acordo com a Comissão Europeia, Portugal está
entre os países da europa com maior número de crianças afetadas por esta
epidemia.
Todas
as crianças deveriam ser bem nutridas, fisicamente ativas e saudáveis. Contudo,
a realidade atual é bem diferente.
Dados
do Sistema de Vigilância Nutricional Infantil (COSI:2008) elaborado pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Instituto Nacional de Saúde Dr.
Ricardo Jorge (INSA), no qual estudaram 3765 crianças dos 6 aos 8 anos do 1º e
2º ano do ciclo de 181 escolas, indicam que mais de 90% das crianças portuguesas consome
fast-food, doces e bebe refrigerantes, pelo menos quatro vezes por semana.
Menos de 1% das crianças bebe água todos os dias e só 2% ingere fruta fresca
diariamente.
Pela
primeira vez na história prevê-se que as crianças desta geração venham a ter
mais doença e morrer mais cedo que os seus pais.
Na fase de
infância e adolescência, são fases que o organismo ainda se encontra em
desenvolvimento e que não deve ser sujeito a dietas demasiado restritivas,
muito abaixo das necessidades energéticas diárias. O ideal é promover a prática
do exercício físico, ao mesmo tempo que se deve manter uma alimentação
equilibrada, saudável e variada.
Há
estratégias que se podem adotar no momento em que se está na cozinha, não há
nada melhor que comida caseira, por exemplo uma sopa deliciosa e nutritiva com
legumes, saladas, hortaliças ou legumes a acompanhar a carne ou peixe. À
sobremesa, opte por fruta crua da época, pois é saudável, está preparada para
comer na hora.
O importante
é tomarmos consciência que estamos a investir na saúde do nosso filho.
O exemplo
que dá há mesa é uma boa maneira de melhorar a alimentação do seu filho, até
porque a tendência dos mais novos é imitarem os hábitos dos pais.
Deve-se
estimular um estilo de vida ativo com a prática regular de exercício. O quanto
antes deixe o seu filho escolher uma atividade desportiva de que gosta. E
porque não passar pela experimentação de diferentes modalidades, procurando
incentivar uma verdadeira cultura desportiva?
No estudo
COSI, quase 60% das crianças vão para a escola de carro e apenas 40,5%
participam em atividades extracurriculares que envolvam atividade física.
Em média uma
criança portuguesa ocupa 4h do seu dia em frente à televisão ou ao ecrã de um
computador.
As crianças
que sofrem desta doença tendem, na generalidade, a sentir uma maior dificuldade
em efetuar tarefas ou aceitar brincadeiras que exijam resistência, cansando-se
mais do que os outros meninos, devido ao peso a mais. Estas limitações levam a
uma maior inatividade e a sentirem-se inferiores perante os colegas.
Quando
tiverem tempo livre, programem atividades para fazer com os vossos filhos, como
por exemplo caminhadas, jogar à bola, andar de patins, andar de bicicleta, etc.
O
problema da obesidade incide no facto de uma criança obesa estar em risco de
vir a sofrer de sérios problemas de saúde durante a sua adolescência e na idade
adulta. Tem maior probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares,
hipertensão, diabetes, asma, doenças do fígado, apneia do sono e vários tipos
de cancro. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a obesidade é a
segunda principal causa de morte no mundo que se pode prevenir, a seguir ao
tabaco.
Comer
bem é fundamental, para que o seu filho tenha uma saúde de ferro, tenha
consciência do que vai comprar para a despensa e para o frigorífico lá de casa.
Incuta
na criança o hábito de comer devagar, mastigar bem os alimentos e saboreá-los.
Outra
forma de controlar o problema tem a ver com a preparação dos lanches que o seu
filho leva para a escola. Não lhe deve dar dinheiro, mas se o fizer, já sabe o
mais provável será ele gastá-lo em guloseimas e produtos calóricos.
Desde pequenos que nos é
apresentado o sabor doce do açúcar como fonte de prazer e recompensa. Os doces
são uma substância viciante, o consumo regular leva habituação. É importante
reduzir o consumo de açúcar e alimentos açucarados.
Não se esqueça que a criança
deve tomar, em casa, um pequeno-almoço completo e equilibrado, para poder
começar a sua jornada escolar da melhor forma com a energia necessária.
A par dos alimentos, também
os líquidos que o seu filho ingere irão influenciar a sua saúde. Devem ingerir
água em vez de refrigerantes ou sumos com gás.
O gosto pelo desporto e por
ter uma alimentação saudável é algo que deve ensinar desde a mais tenra idade
às crianças.
Está portanto nas suas mãos
promover hábitos alimentares saudáveis e, contribuir para que o seu filho venha
a ter qualidade de vida na idade adulta.
Célia Dias Lopes é dietista.
Licenciada em Dietética desde 1997 e pós-graduada em Saúde, Aconselhamento e Tendências de Consumo, ambos pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.
Sócio-gerente da empresa NutriCuida Consultoria e Nutrição, Lda.
É formadora e consultora na área da nutrição. Autora de inúmeras comunicações em congressos.
Autora do Livro " a e i o u da dieta saudável do doente em hemodiálise".
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas e da Ordem dos Nutricionistas.
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