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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Obesidade na infância ou adolescência é motivo para fazer dieta?


(crónica de Célia Dias Lopes)

Se antigamente a gordura era formosura e sinal de saúde nas crianças, hoje não é assim. O excesso de peso na infância e adolescência paga-se caro no futuro.

Estima-se que em todo o mundo, 155 milhões de crianças em idade escolar têm excesso de peso ou são obesas, das quais 30 a 45 milhões são obesas, correspondendo a 3% das crianças entre os 5 e os 17 anos a nível mundial.

Atualmente, a obesidade é a doença pediátrica mais comum a nível mundial.

Em Portugal, uma em cada três crianças tem este problema de saúde. Segundo o estudo 2013-2014 da APCOI (Associação Portuguesa Contra Obesidade Infantil) que contou com 18.374 crianças (uma das maiores amostras neste tipo de investigação): 33,3% das crianças entre os 2 e os 12 anos têm excesso de peso, das quais 16,8% são obesas. De acordo com a Comissão Europeia, Portugal está entre os países da europa com maior número de crianças afetadas por esta epidemia.

Todas as crianças deveriam ser bem nutridas, fisicamente ativas e saudáveis. Contudo, a realidade atual é bem diferente.

Dados do Sistema de Vigilância Nutricional Infantil (COSI:2008) elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), no qual estudaram 3765 crianças dos 6 aos 8 anos do 1º e 2º ano do ciclo de 181 escolas, indicam que mais de 90% das crianças portuguesas consome fast-food, doces e bebe refrigerantes, pelo menos quatro vezes por semana. Menos de 1% das crianças bebe água todos os dias e só 2% ingere fruta fresca diariamente.

Pela primeira vez na história prevê-se que as crianças desta geração venham a ter mais doença e morrer mais cedo que os seus pais.

Na fase de infância e adolescência, são fases que o organismo ainda se encontra em desenvolvimento e que não deve ser sujeito a dietas demasiado restritivas, muito abaixo das necessidades energéticas diárias. O ideal é promover a prática do exercício físico, ao mesmo tempo que se deve manter uma alimentação equilibrada, saudável e variada.

Há estratégias que se podem adotar no momento em que se está na cozinha, não há nada melhor que comida caseira, por exemplo uma sopa deliciosa e nutritiva com legumes, saladas, hortaliças ou legumes a acompanhar a carne ou peixe. À sobremesa, opte por fruta crua da época, pois é saudável, está preparada para comer na hora.

O importante é tomarmos consciência que estamos a investir na saúde do nosso filho.

O exemplo que dá há mesa é uma boa maneira de melhorar a alimentação do seu filho, até porque a tendência dos mais novos é imitarem os hábitos dos pais.

Deve-se estimular um estilo de vida ativo com a prática regular de exercício. O quanto antes deixe o seu filho escolher uma atividade desportiva de que gosta. E porque não passar pela experimentação de diferentes modalidades, procurando incentivar uma verdadeira cultura desportiva?

No estudo COSI, quase 60% das crianças vão para a escola de carro e apenas 40,5% participam em atividades extracurriculares que envolvam atividade física.

Em média uma criança portuguesa ocupa 4h do seu dia em frente à televisão ou ao ecrã de um computador.

As crianças que sofrem desta doença tendem, na generalidade, a sentir uma maior dificuldade em efetuar tarefas ou aceitar brincadeiras que exijam resistência, cansando-se mais do que os outros meninos, devido ao peso a mais. Estas limitações levam a uma maior inatividade e a sentirem-se inferiores perante os colegas.

Quando tiverem tempo livre, programem atividades para fazer com os vossos filhos, como por exemplo caminhadas, jogar à bola, andar de patins, andar de bicicleta, etc.

O problema da obesidade incide no facto de uma criança obesa estar em risco de vir a sofrer de sérios problemas de saúde durante a sua adolescência e na idade adulta. Tem maior probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, asma, doenças do fígado, apneia do sono e vários tipos de cancro. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a obesidade é a segunda principal causa de morte no mundo que se pode prevenir, a seguir ao tabaco.

Comer bem é fundamental, para que o seu filho tenha uma saúde de ferro, tenha consciência do que vai comprar para a despensa e para o frigorífico lá de casa.

Incuta na criança o hábito de comer devagar, mastigar bem os alimentos e saboreá-los.

Outra forma de controlar o problema tem a ver com a preparação dos lanches que o seu filho leva para a escola. Não lhe deve dar dinheiro, mas se o fizer, já sabe o mais provável será ele gastá-lo em guloseimas e produtos calóricos.

Desde pequenos que nos é apresentado o sabor doce do açúcar como fonte de prazer e recompensa. Os doces são uma substância viciante, o consumo regular leva habituação. É importante reduzir o consumo de açúcar e alimentos açucarados.

Não se esqueça que a criança deve tomar, em casa, um pequeno-almoço completo e equilibrado, para poder começar a sua jornada escolar da melhor forma com a energia necessária.

A par dos alimentos, também os líquidos que o seu filho ingere irão influenciar a sua saúde. Devem ingerir água em vez de refrigerantes ou sumos com gás.

O gosto pelo desporto e por ter uma alimentação saudável é algo que deve ensinar desde a mais tenra idade às crianças.

Está portanto nas suas mãos promover hábitos alimentares saudáveis e, contribuir para que o seu filho venha a ter qualidade de vida na idade adulta.

Célia Dias Lopes é dietista. 
Licenciada em Dietética desde 1997 e pós-graduada em Saúde, Aconselhamento e Tendências de Consumo, ambos pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.
Sócio-gerente da empresa NutriCuida Consultoria e Nutrição, Lda.
É formadora e consultora na área da nutrição. Autora de inúmeras comunicações em congressos.
Autora do Livro " a e i o u da dieta saudável do doente em hemodiálise".
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas e da Ordem dos Nutricionistas.

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