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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Será que a pedagogia é importante na música/desporto amador?


(crónica de José Miguel Vitória Rodrigues)

Hoje trazemos à reflexão um assunto importante no nosso quotidiano, visto que o mesmo está amplamente preenchido com a tecnologia, com a impessoalidade, com a frieza sentimental, com tantos outros aspectos, por vezes, um pouco difíceis de serem entendidos. Importa, no âmbito do ensino da música ou da prática desportiva (num contexto amador), entender, sobretudo ao nível do público infanto-juvenil, se a existência de pedagogia é ou não um factor significativo para que a criança ou jovem possa tirar o devido dividendo da atividade ou modalidade que está a praticar.

Todos nós, que já frequentámos atividades de carácter recreativo, sabemos que as mesmas, numa primeira instância, são apresentadas como uma mera ocupação do nosso tempo livre, o tão desejado tempo de lazer, o qual se pretendia salutar, enriquecedor, com um bom espírito de camaradagem. No entanto, poucos ponderavam sobre o tipo de influência que essas atividades recreativas podiam exercer ou não na vida dos jovens de então, muito menos se quem as orientava era dotado de alguma competência para tal. Notem o exemplo: o maestro necessitava de saber ler música, necessitava de ser conhecedor, de um modo muito generalizado sobre o funcionamento dos instrumentos que teria à disposição dos seus músicos, ou seja, teria de ensinar todos; agora notem, será que o maestro seria obrigado a saber tocar todos os instrumentos? Será que os músicos, por muito amadores que fossem teriam uma aprendizagem cabal? Será que os jovens, com o seu vigoroso entusiasmo, iriam tirar proveito desse ensino? Atenção que estas perguntas não pretendem ser nenhum crítica destrutiva, mas sim, que as mesmas possam conduzir o leitor a uma reflexão sobre a temática desta crónica. 

Façamos um paralelismo com o desporto, será que qualquer pessoa (homem ou mulher) poderia ser treinador de uma equipa desportiva, sobretudo nas camadas jovens (a chamada formação)? Bem sabemos que não será de qualquer maneira que iremos desenvolver trabalho com as nossas crianças ou os nossos jovens, pois, se atendermos ao descrito no início da presente crónica, as crianças são pessoas e estas não são máquinas, têm sentimentos, têm diferentes personalidades, têm diferentes ambientes sócio-familiares, têm diferentes experiências vivenciadas, que podem contribuir para o seu desempenho, não só num contexto extracurricular (como são o caso da música e do desporto), como na escola, como na sua rotina diária. Daí importa, quem esteja a liderar equipas ou esteja a desempenhar funções de monitor num contexto formativo (por muito amador que seja) é muito, muito, muito importante ter em linha de conta os contextos de vida de cada criança/jovem que tem à sua disposição e não esquecer esta premissa: uma criança/jovem quando procura uma atividade extracurricular (conjuntamente com o seu encarregado de educação), vai com a sua motivação em alta, daí importa alimentar a mesma e não destruí-la. Importa ainda pensar no seguinte: o que hoje pode ser algo recreativo ou extracurricular, amanhã poderá ser a profissão da criança/jovem enquanto um futuro cidadão (com sentimentos, estabelecendo relações interpessoais com outros de forma construtiva e positiva). Já aconteceu com outros no passado, porque não ponderarmos se não acontecerá com outros no futuro. Importa não esquecermos que muitos dos cidadãos de hoje foram alvo de influência de outros que desempenharam funções de monitores em diversas atividades extracurriculares, no entanto, um aspeto que raramente seria colocado de lado era o apoio que essas pessoas (os denominados trabalhadores por amor à camisola) davam na construção do ser social junto da criança ou jovem. Que assim possa continuar a ser com todos aqueles que atualmente desenvolvem uma atividade similar.
José Miguel Vitória Rodrigues
Professor, maestro, músico e compositor
Licenciado em Professores do Ensino Básico de Educação Musical, pela Escola Superior de Educação de Leiria
Frequência da Pós – Graduação em direção de orquestra de sopros, no Instituto Jean Piaget, Almada
Licenciatura em Música pela Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco
Diretor artístico e mentor de PRIMEIRA AULA DE MÚSICA

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