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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

E quando menos se previa, a desilusão acontece! … Ou não!


(crónica de Sofia Loureiro)

Continuando a aproveitar o ritmo dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016 e depois de vários dias com surpresas boas, emoções ao rubro e acontecimentos inéditos, o foco desta crónica mantém-se na alta competição e nos imensos aspetos psicológicos e sociais relacionados com o tema.

Temos tido a possibilidade de acompanhar nas mais diversas modalidades, novas marcas, novos records, atletas com provas dadas a manterem e surpreenderem (ou não) pela consistência da excelência de performances e novos atletas a surgirem com toda uma nova energia e objetivos iguais aos dos seus adversários: atingir o rendimento máximo! Superarem-se a cada prova! E, se possível, trazer uma medalha olímpica para a sua nação!

Temos assistido de olhos e coração colados aos ecrãs, às prestações de atletas de países com menos (ou nenhuma) tradição no “medalhário” a conquistarem o seu lugar na elite das elites do desporto mundial. 

Sabemos que quem alcança os “mínimos” para estar nos Jogos Olímpicos, treinou, esforçou-se, sacrificou-se, empenhou-se 365 dias por ano, ano após ano, para melhorar técnicas, tempos, marcas e acima de tudo, atingir um rendimento e um desempenho de nível superior. Só assim conseguem estar nas competições mais desafiantes, mais relevantes e ao lado de atletas que apesar de seus adversários, são também companheiros imprescindíveis para esta viagem na superação de metas e desafios.

Era bom que ninguém sequer colocasse em questão que as horas e horas de treino (de atletas, treinadores e equipa técnica), que os sacrifícios, as lesões, as dores, têm como grande objetivo a melhor prestação possível nas competições mundiais como são o caso dos Jogos Olímpicos. 

Por isto e muito mais, me parece importante alertar para os julgamentos de valor que facilmente se ouvem nestas alturas, sobre a desistência de atletas nas provas ou sobre os seus “maus resultados”. 

Vejamos: no desporto de alta competição não podemos esquecer que estão os melhores dos melhores e por isso mesmo com provas dadas do seu valor, por quem os sabe de facto avaliar. Mas porque deram prova do seu valor e porque se encontram em competição por si e pelas suas nações, o ambiente é naturalmente de muito maior exigência e complexidade.

Se por um lado este é o desafio e objetivo máximo para cada atleta, é também a altura de maior tensão/stress. É o momento por excelência, em que atletas de qualquer ponto do mundo, sexo, religião ou convicção, percecionam que estão a ser julgados, postos à prova e que o seu valor poderá ser ou não certificado pelos seus pares, por treinadores, pelo seu país e pelo mundo inteiro. 

Não há nenhum atleta imune aos momentos críticos da alta competição. Todos/as os/as atletas que chegam a este nível de rendimento, já passaram por contrariedades que lhes são alheias (avarias e imprevistos nos equipamentos e/ou da responsabilidade da organização, condições atmosféricas, lesões). Todos/as os/as atletas  já sentiram dificuldades em gerir as suas próprias emoções, em gerir a pressão e o medo de falhar nos seus objetivos.

Muitos conseguem de forma corrente e sistemática lidar com estes desafios e frustrações. Muitos/as conseguem controlar estes receios e ultrapassar os piores resultados, alcançando novas metas, superando-se de novo, uma e outra vez. Outros têm mais dificuldade em lidar com o medo e com os insucessos (que afinal fazem parte do desafio) e de forma repetida vão desistindo e perdendo a confiança nas suas capacidades. Perdem o foco. Desconcentram-se. Mas atenção… a maior parte dos atletas tem uma atitude positiva. Senão vejamos: os Jogos Olímpicos não tinham tantas histórias de vencedores consecutivos em diversas modalidades. E quando se fala em vencedores não se limita a fasquia aos/às medalhadas, mas a todos/as quantas e quantas vezes são convocados para representarem os seus países por serem os melhores entre os melhores.

É pois importante trabalhar a gestão do stress, a motivação e as estratégias mentais para lidar com as competições e tudo o que as rodeiam antes, durante e depois. Este deve ser um trabalho coerente e integrado com toda a parte de treino físico, técnico e tático. Um trabalho continuado e individualizado. Porque cada atleta é único na sua história de vida e na sua personalidade.

Acreditem que a GRANDE maioria dos atletas tenta realmente por todos os meios, voltar a ser eficaz em competição mesmo depois de não ter alcançado o resultado desejado ou esperado para a sua forma física e para o seu “valor de mercado”. 

Acreditem que os atletas portugueses em quem depositávamos a esperança de uma medalha, sofreram mais que os 11 milhões de concidadãos juntos quando realizaram esse sonho pessoal e coletivo.

Acreditem que tal como muitos, mas refiro o Nelson Évora em particular, cada um/a desses atletas está agora a olhar para a sua prestação menos conseguida, como um impulso para se superarem amanhã.

Acreditem que cada um deles precisa e merece um grande OBRIGADA de todos nós!

Sofia Loureiro
Psicóloga Clínica
Licenciada em  Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto 
Pós graduada em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva

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