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quinta-feira, 14 de julho de 2016

Adoçante: será este doce mais saudável que o açucar?


(crónica de Célia Dias Lopes)

Os seres humanos estão predispostos para reconhecer e preferir o sabor doce a partir do nascimento. Esta predisposição e a aversão inata ao amargo, pensa-se serem adaptações fisiológicas que ajudaram os primeiros seres humanos a distinguir entre alimentos de origem vegetal potencialmente nocivos e os potencialmente nutritivos.

Os edulcorantes ou adoçantes são substâncias utilizadas na substituição da sacarose (açúcar) com maior poder de adoçar, com o objetivo de reduzir o valor calórico dos alimentos e bebidas dietéticas. 

Os edulcorantes artificiais que se destacam no mercado consumidor são o aspartame, a sacarina sódica, o ciclamato de sódio, o acessulfame-k e a sucralose. Os edulcorantes naturais que se destacam são a frutose, o manitol, o sorbitol, o xilitol e o esteviosídio (stevia).

Adoçantes e controlo de peso

Um estudo recente concluiu que a substituição de açúcar por adoçantes em bebidas refrescantes tem efeitos benéficos sobre o índice de massa corporal (IMC).

Os edulcorantes podem constituir uma ajuda eficaz no controlo de peso, quando utilizados na dieta como uma alternativa à adição de açúcar. A evidência científica sugere que os adoçantes de baixas calorias por si só não são uma solução para a obesidade, pois não inibem o apetite. Portanto, é importante que os alimentos e bebidas de baixo teor calórico façam parte de uma dieta equilibrada e estilo de vida saudável, que inclua atividade física regular. Esta abordagem é apoiada na literatura.

A substituição do açúcar por edulcorantes não garante necessariamente a redução de calorias, pois alguns produtos aumentam a quantidade de gordura na formulação, um exemplo são os chocolates dietéticos. Portanto, é imprescindível a leitura dos rótulos dos produtos. 

Trocar bebidas adoçadas com sacarose por edulcorantes reduz o valor calórico do alimento e produz menor estímulo à insulina, sendo indicado para o controle de peso e diabéticos. Ao contrário do que se pensa, os adoçantes não engordam. Isto deve-se ao seu elevado poder de adoçar que faz com que estes sejam utilizados em pequenas quantidades. Assim, muitos deles não possuem valor calórico e os que possuem, contribuem com baixo valor calórico.

Risco de utilização na gestação

Segundo estudos da Food and Drug Administration dos Estados Unidos (FDA), o consumo excessivo de edulcorantes, como qualquer outra droga, possui um risco potencial na gravidez.

Porém, estudos realizados em mulheres grávidas no primeiro e em outros trimestres de gestação não evidenciaram risco algum à mãe nem ao feto. A sucralose e stevia são os mais indicados para adoçar bebidas e os mais usados em preparações por grávidas e crianças.

Contra indicações do aspartame

O aspartame é composto por uma substância denominada fenilalanina. Por esta razão possui algumas contra indicações para indivíduos que são portadores de fenilcetonúria (doença provocada pela ausência da enzima L-fenialalanina hidroxilase que degrada a fenilalanina). Os portadores desta doença devem suspender alimentos ricos em fenilalanina e aspartame.

Ingestão Diária Aceitável (IDA), regulamentação e aprovação.

Todos os adoçantes de baixas calorias utilizados na produção de alimentos na Europa têm sido submetidos a testes de segurança rigorosos. A autorização e utilização de adoçantes de baixas calorias, como todos os outros aditivos alimentares, está harmonizado na União Europeia (UE), sendo regida por conselho da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA). A EFSA define níveis aceitáveis de ingestão diária e analisa novas evidências sobre as questões de segurança que surgem. Estas salvaguardas servem para tranquilizar o público que os adoçantes de baixas calorias aprovados são seguros.

Adoçante e cancro

O maior problema que se coloca sobre a utilização destes adoçantes artificiais passa pela sua relação potencialmente positiva com alguns tipos de cancro. 

Existe uma relação entre o consumo diário de edulcorantes e o aumento do risco de alguns cancros como leucemia, linfoma, trato urinário, laringe e múltiplo mieloma nos homens. A mesma revisão denota uma diminuição do risco de cancro da mama e ovário.

Quase que parece que as mulheres podem ter vantagens em consumir adoçantes e os homens não, mas estes estudos apenas indicam associação e não causalidade direta.

Por outro lado sabemos que o consumo de sacarose (açúcar), leva a picos de insulina e secreção de IGF-1 (hormona de crescimento) que estimulam diretamente não só o desenvolvimento de células cancerígenas como também a sua capacidade de invadir os tecidos circundantes.

Um outro efeito negativo dos edulcorantes prende-se com algumas alterações que estes podem promover na nossa flora intestinal, alterações estas que podem posteriormente induzir uma maior intolerância à glicose, semelhante ao que acontece quando se tem um consumo abusivo de açúcar.

Mensagens a reter.

Pesando os prós e os contras, a troca de um alimento açucarado pelo seu equivalente com edulcorantes é positiva e poupa-nos objetivamente a ingestão de algumas calorias.

A mensagem mais importante a retirar é que o seu consumo diário não é igualmente algo que deva ser encarado como normal e, portanto, deve ser utilizado de forma regrada.

Habitue-se a ingerir apenas o açúcar presente naturalmente nos alimentos. O nosso paladar também se educa, por isso quanto menos alimentos doces ingerir, menor será a sua necessidade deles.

Comer saudável pode ser divertido e fácil!

Não perca a oportunidade de poder controlar a sua saúde e de se sentir verdadeiramente bem!

Célia Dias Lopes é dietista. 
Licenciada em Dietética desde 1997 e pós-graduada em Saúde, Aconselhamento e Tendências de Consumo, ambos pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.
Sócio-gerente da empresa NutriCuida Consultoria e Nutrição, Lda.
É formadora e consultora na área da nutrição. Autora de inúmeras comunicações em congressos.
Autora do Livro " a e i o u da dieta saudável do doente em hemodiálise".
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas e da Ordem dos Nutricionistas.

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