(crónica de Sofia Loureiro)
Brincar, brincar, brincar,
brincar…
As crianças brincam pouco. Os
adultos também… Daqui a umas horas, as casas enchem-se de prendas tecnológicas
que são desejos de crescidos e menos crescidos, fruto de um mundo digital e
mais ou menos virtual do pronto a comer… pronto a fazer… pronto a ter prazer,
sem mexer pouco mais que um ou dois dedos!
Que relação tem esta conversa com
desporto e psicomotricidade?! TUDO!
O exercício físico, o desporto e
o desenvolvimento psicomotor não são mundos à parte de toda a realidade que
produzimos e da qual somos produto!
Para que as crianças possam
exercer a sua capacidade de pensar, de criar, de querer ser e de se descobrir é
essencial que haja diversidade nas experiências que lhes são oferecidas em
casa, na escola, nas associações e clubes desportivos, sejam elas mais diretamente
dedicadas para as brincadeiras ou para as aprendizagens que ocorrem por meio de
uma intervenção direta.
Porque brincar não é mais do que
a linguagem através das quais as crianças mantêm uma ligação imprescindível com
o que na vida é o “não brincar”! Este é um aspeto com “A” maiúsculo porque tem
um impacto sério no desenvolvimento integral infantil. Brincar é algo inato, que
acontece no plano da imaginação e que implica a utilização de competências
essenciais como a da linguagem e jogo simbólico. Simplificando e
“descomplicando” isto quer dizer que as crianças precisam ter consciência da
diferença que existe entre a brincadeira que estão a fazer e a realidade que
lhes deu o conteúdo para a sua concretização. Então, para brincar, as crianças
conseguem percecionar e incorporar elementos da realidade com que se confrontam
e atribuir-lhe novos significados, usando a imaginação para imitar a realidade
que vivenciaram. Quando se brinca, as vozes, os gestos, os objetos utilizados,
os espaços onde se circula têm outro significado e valem o que a criança quer
para além do que aparentam ser aos olhos do adulto.
No ato de brincar, as crianças
sabem que estão a brincar! Sabem que estão a recriar os acontecimentos que
viveram direta ou indiretamente e assumem papéis. Brincar a bater os pés,
brincar a fazer vozes que recriam e assumem diferentes personagens, brincar que
se voa ou que se é professor/a, treinador/a, brincar que se é bailarina/o ou
cantor/a, brincar de cozinhar ou de escrever cartas de amor ou de desejos ao
Pai Natal, mesmo quando ainda não se passou a fase dos grafismos… promove a
autonomia, a criatividade, a autoestima e progressivamente ajuda a criança a
entender a realidade e a integrar os modelos de vida adulta.
Por isto e muito mais… é bom que
os adultos também consigam voltar a brincar. É bom que os adultos entendam que
os conhecimentos e a incorporação da realidade nas crianças se faz quando usam
os conhecimentos que têm através da imitação das experiências que vivem, das
pessoas com quem convivem, dos livros que lhes são lidos, dos jogos de consola
que jogam, dos passeios que fazem, dos filmes a que assistem...
Os modelos que têm na sua vida
são essenciais para os recursos que vão desenvolvendo.
A brincar, a brincar… a questão é
muito séria! A brincar de forma autónoma e livre, as crianças vão criando
estratégias de resolução de problemas. O espaço e o tempo de brincar permitem
que a criança experimente de forma própria e protegida o seu mundo e que
procurem compreender as pessoas, as emoções e muitas aprendizagens do dia a dia.
É mais fácil ser uma criança
feliz e saudável quando se pode brincar livremente! É seguramente verdade que
se será um adulto equilibrado, saudável, determinado, autónomo, com consciência
de si quando se pode brincar… em criança sim! E quando em “crescido/a” também”!
Feliz Natal e vá lá de brincar
esta noite, amanhã e um bocadinho todos os dias!
Sofia Loureiro
Psicóloga Clínica
Licenciada em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto
Pós graduada em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva
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