(crónica de Célia Dias Lopes)
A percentagem de cancros
atribuídos à alimentação é muito elevada. Cerca de um terço dos cancros estão
diretamente ligados à natureza de regime alimentar. Assim sendo, a prevenção do
cancro passa por uma modificação da alimentação, de modo a incluir nesse regime
alimentar fontes muito ricas em compostos anticancerígenos.
É absolutamente imperativo deixar
de considerar a alimentação como um ato estritamente destinado a matar a fome e
sem quaisquer consequências para a saúde humana.
Não só a alimentação mas todo o
estilo de vida das pessoas desempenha um papel preponderante nos riscos de
aparecimento de um cancro.
De acordo com a evidência
científica, os cidadãos podem reduzir o risco de cancro se adotarem comportamentos
saudáveis de alimentação e atividade física.
No seguimento das notícias
publicadas sobre o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizado
através da sua Agência Internacional de Investigação do Cancro (IRAC), é de
destacar que a ingestão de carne processada “é cancerígena” e a carne vermelha
é “provavelmente cancerígena nos humanos”.
Esta avaliação foi feita tendo em
conta os resultados científicos publicados ao longo dos últimos 20 anos de mais
de 800 estudos de investigação. Fazem parte da IRAC, 22 especialistas oriundos
de 10 países.
Este coloca as carnes processadas
(salsichas, bacon, presunto, chouriço, fiambre, etc…) no mesmo grupo de
substâncias cancerígenas (“grupo 1”) que o tabaco, o amianto e os gases de
escape emitidos pelos motores a gasóleo. Foi detetada a associação entre o
consumo da carne processada e o cancro colo-retal e do cancro estômago.
Segundo o mesmo relatório, a
carne vermelha (vaca, borrego, vitela, cavalo, cabra e porco), foi classificada
como “provavelmente cancerígena nos humanos” (“grupo 2A”). Esta associação foi
observada sobretudo em relação ao cancro colo-rectal, mas também relativamente
ao cancro do pâncreas e da próstata.
Os peritos concluem que por cada
50 gramas de carne processada ingerida diariamente, o risco de cancro
colo-rectal aumenta 18%. Por cada 100g de carne vermelha ingerida diariamente,
o risco de cancro aumenta 17%.
De facto, as conclusões
apresentadas corroboram algo que já se sabia – e confirmam as recomendações
atuais de saúde pública para se limitar o consumo de carne. Não se deve
ultrapassar os 500 gramas de carne vermelha por semana.
A alimentação anticancro é
maioritariamente composta por vegetais (especialmente todo o tipo de couves,
brócolos, alho, cebola, cogumelos), leguminosas, ervas aromáticas, frutas,
algas e especiarias (açafrão, gengibre, caril).
Deve ter em conta estas medidas,
de forma a ter uma alimentação protetora:
- Optar por cereais integrais;
- Consumir diariamente
leguminosas (feijão, grão, favas, ervilhas,…);
- Consumir diariamente hortícolas
e frutas;
- Limitar o consumo de alimentos que
do ponto de vista nutricional são pobres, mas que do ponto de vista calórico
são ricos (alimentos com alto teor em açúcar e gorduras, bebidas açucaradas);
- Evitar carnes processadas,
controlar o consumo de carnes vermelhas e de alimentos ricos em sal;
- Se consumir álcool, limite o
seu consumo. Não consumir bebidas alcoólicas é benéfico para a prevenção do
cancro;
- Tome medidas para ter peso
saudável;
- Mantenha-se fisicamente ativo
no dia-a-dia.
Mais especificamente, no caso da
carne, tendo em conta a evidência científica reunida pela OMS e IARC:
- Reduzir o consumo de carne
processada para momentos ocasionais ao longo do mês;
- Reduzir, por precaução, a carne
vermelha para valores até 500 gr por semana. Contudo a dose acima da qual
existe risco comprovado ainda não está totalmente definida;
- A carne continua a ser um
alimento importante para ser incluído moderadamente na dieta humana e numa alimentação
diversificada pelo seu elevado teor proteico, vitamínico e mineral. Se gostar
de carne não prescinda dela mas limite a quantidade;
- Consumir diariamente alimentos
protetores, como a fruta e hortícolas em quantidades de pelo menos 400g
diariamente, ou seja duas sopas de legumes e 3 peças de fruta diariamente, para
além do consumo de cereais integrais;
- Rejeitar carnes carbonizadas na
grelha, chapa ou churrasco;
- Substituir, ocasionalmente a
carne por refeições com fontes de proteínas vegetal, como o feijão, as
lentilhas, favas, ervilhas ou o grão.
A alimentação inadequada é um dos
fatores que rouba mais anos de vida às pessoas.
Pergunto então porque é que o
aconselhamento nutricional ainda não faz parte do tratamento convencional do
cancro?
Há 5000 anos todas as grandes tradições
recorrem à alimentação para influenciar o curso da doença. No século V antes
A.C., Hipócrates disse: “ Que o teu alimento seja o teu tratamento.”
Evitar o cancro pela alimentação
é pois equivalente a uma quimioterapia não tóxica, utilizando as moléculas
anticancerígenas existentes nos alimentos, que combate o cancro na origem antes
de ele chegar à maturidade e ameaçar o bom funcionamento do organismo.
Fazer exercício físico não é
somente um bom hábito para manter a boa forma muscular. Vários estudos
estabelecem uma relação entre atividade física e a baixa incidência de certos
cancros, entre eles o da mama e o do cólon.
Importa levar uma vida mais
conscienciosa, mais equilibrada e, no fim de contas, que possa desfrutar da sua
vida durante muitos anos, gozando de uma perfeita saúde.
Célia Dias Lopes é dietista.
Licenciada em Dietética desde 1997 e pós-graduada em Saúde, Aconselhamento e Tendências de Consumo, ambos pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.
Sócio-gerente da empresa NutriCuida Consultoria e Nutrição, Lda.
É formadora e consultora na área da nutrição. Autora de inúmeras comunicações em congressos.
Autora do Livro " a e i o u da dieta saudável do doente em hemodiálise".
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas e da Ordem dos Nutricionistas.
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