Páginas

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Menu: combater o cancro!


(crónica de Célia Dias Lopes)

A percentagem de cancros atribuídos à alimentação é muito elevada. Cerca de um terço dos cancros estão diretamente ligados à natureza de regime alimentar. Assim sendo, a prevenção do cancro passa por uma modificação da alimentação, de modo a incluir nesse regime alimentar fontes muito ricas em compostos anticancerígenos.

É absolutamente imperativo deixar de considerar a alimentação como um ato estritamente destinado a matar a fome e sem quaisquer consequências para a saúde humana.

Não só a alimentação mas todo o estilo de vida das pessoas desempenha um papel preponderante nos riscos de aparecimento de um cancro.

De acordo com a evidência científica, os cidadãos podem reduzir o risco de cancro se adotarem comportamentos saudáveis de alimentação e atividade física.

No seguimento das notícias publicadas sobre o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizado através da sua Agência Internacional de Investigação do Cancro (IRAC), é de destacar que a ingestão de carne processada “é cancerígena” e a carne vermelha é “provavelmente cancerígena nos humanos”. 

Esta avaliação foi feita tendo em conta os resultados científicos publicados ao longo dos últimos 20 anos de mais de 800 estudos de investigação. Fazem parte da IRAC, 22 especialistas oriundos de 10 países.

Este coloca as carnes processadas (salsichas, bacon, presunto, chouriço, fiambre, etc…) no mesmo grupo de substâncias cancerígenas (“grupo 1”) que o tabaco, o amianto e os gases de escape emitidos pelos motores a gasóleo. Foi detetada a associação entre o consumo da carne processada e o cancro colo-retal e do cancro estômago.

Segundo o mesmo relatório, a carne vermelha (vaca, borrego, vitela, cavalo, cabra e porco), foi classificada como “provavelmente cancerígena nos humanos” (“grupo 2A”). Esta associação foi observada sobretudo em relação ao cancro colo-rectal, mas também relativamente ao cancro do pâncreas e da próstata.

Os peritos concluem que por cada 50 gramas de carne processada ingerida diariamente, o risco de cancro colo-rectal aumenta 18%. Por cada 100g de carne vermelha ingerida diariamente, o risco de cancro aumenta 17%.

De facto, as conclusões apresentadas corroboram algo que já se sabia – e confirmam as recomendações atuais de saúde pública para se limitar o consumo de carne. Não se deve ultrapassar os 500 gramas de carne vermelha por semana.

A alimentação anticancro é maioritariamente composta por vegetais (especialmente todo o tipo de couves, brócolos, alho, cebola, cogumelos), leguminosas, ervas aromáticas, frutas, algas e especiarias (açafrão, gengibre, caril).

Deve ter em conta estas medidas, de forma a ter uma alimentação protetora:

- Optar por cereais integrais;
- Consumir diariamente leguminosas (feijão, grão, favas, ervilhas,…);
- Consumir diariamente hortícolas e frutas;
- Limitar o consumo de alimentos que do ponto de vista nutricional são pobres, mas que do ponto de vista calórico são ricos (alimentos com alto teor em açúcar e gorduras, bebidas açucaradas);
- Evitar carnes processadas, controlar o consumo de carnes vermelhas e de alimentos ricos em sal;
- Se consumir álcool, limite o seu consumo. Não consumir bebidas alcoólicas é benéfico para a prevenção do cancro;
- Tome medidas para ter peso saudável;
- Mantenha-se fisicamente ativo no dia-a-dia.

Mais especificamente, no caso da carne, tendo em conta a evidência científica reunida pela OMS e IARC:

- Reduzir o consumo de carne processada para momentos ocasionais ao longo do mês;
- Reduzir, por precaução, a carne vermelha para valores até 500 gr por semana. Contudo a dose acima da qual existe risco comprovado ainda não está totalmente definida;
- A carne continua a ser um alimento importante para ser incluído moderadamente na dieta humana e numa alimentação diversificada pelo seu elevado teor proteico, vitamínico e mineral. Se gostar de carne não prescinda dela mas limite a quantidade;
- Consumir diariamente alimentos protetores, como a fruta e hortícolas em quantidades de pelo menos 400g diariamente, ou seja duas sopas de legumes e 3 peças de fruta diariamente, para além do consumo de cereais integrais;
- Rejeitar carnes carbonizadas na grelha, chapa ou churrasco;
- Substituir, ocasionalmente a carne por refeições com fontes de proteínas vegetal, como o feijão, as lentilhas, favas, ervilhas ou o grão.

A alimentação inadequada é um dos fatores que rouba mais anos de vida às pessoas.

Pergunto então porque é que o aconselhamento nutricional ainda não faz parte do tratamento convencional do cancro?

Há 5000 anos todas as grandes tradições recorrem à alimentação para influenciar o curso da doença. No século V antes A.C., Hipócrates disse: “ Que o teu alimento seja o teu tratamento.”

Evitar o cancro pela alimentação é pois equivalente a uma quimioterapia não tóxica, utilizando as moléculas anticancerígenas existentes nos alimentos, que combate o cancro na origem antes de ele chegar à maturidade e ameaçar o bom funcionamento do organismo.

Fazer exercício físico não é somente um bom hábito para manter a boa forma muscular. Vários estudos estabelecem uma relação entre atividade física e a baixa incidência de certos cancros, entre eles o da mama e o do cólon.

Importa levar uma vida mais conscienciosa, mais equilibrada e, no fim de contas, que possa desfrutar da sua vida durante muitos anos, gozando de uma perfeita saúde.

Célia Dias Lopes é dietista. 
Licenciada em Dietética desde 1997 e pós-graduada em Saúde, Aconselhamento e Tendências de Consumo, ambos pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.
Sócio-gerente da empresa NutriCuida Consultoria e Nutrição, Lda.
É formadora e consultora na área da nutrição. Autora de inúmeras comunicações em congressos.
Autora do Livro " a e i o u da dieta saudável do doente em hemodiálise".
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas e da Ordem dos Nutricionistas.

Sem comentários:

Enviar um comentário