(crónica de Nuno Gil)
Cada
treinador é um treinador, cada um tem os seus objectivos, motivações e
filosofias diferentes. De acordo com (Martens, 1998), existem vários estilos de
treinador, isto é, treinadores com maneiras diferentes de exercer a sua função,
treinadores com formas diferentes de ensinar e de se relacionar com os atletas.
De acordo
com o mesmo autor e com Castelo & Barreto (1996) podemos dividir os treinadores em três tipos: os autoritários, os permissivos e os democráticos.
Autoritários ou como Martens (2002) denomina ditadores, são aqueles
treinadores para quem só a sua opinião conta e só ele é que tem a possibilidade
de tomar decisões, para estes treinadores o atleta só serve para obedecer às
suas ordens.
Os permissivos ou dóceis, são aqueles
treinadores que têm uma atitude passiva, são treinadores considerados
preguiçosos, que deixam os atletas fazerem aquilo que lhes apetece, tomando o
mínimo de decisões possível, intervindo apenas em situações de perigo. São
treinadores que dão poucas instruções, servem de condutor da atividade, mas de
uma forma restrita e apenas resolvem os casos de indisciplina quando há uma
necessidade extrema.
Os democráticos ou cooperativos, são
aqueles que partilham com os atletas as decisões respeitantes ao grupo e/ou
atleta, atendendo ao nível de maturidade dos atletas e consequente capacidade
de tomar decisões, são um tipo de treinadores que embora reconheçam a sua
responsabilidade na hora de liderar e orientar os atletas, reconhecem também
que os jovens não devem nem podem chegar à idade adulta sem aprenderem a tomar
decisões.
Classificados
que estão os estilos de treinadores, qual ou quais são os melhores?
O estilo
autoritário foi durante muito tempo o mais seguido pelos treinadores. Estes
treinadores limitavam-se a dar ordens, no entanto, atualmente os jovens já não
aceitam de bom grado um treinador com este estilo, pois gostam de saber o
porquê de estarem a fazer as tarefas propostas. Este estilo até pode resultar,
em alguns contextos, se o objectivo principal for ganhar, contudo pode originar
que os jovens não tenham o prazer total da sua prática desportiva. De acordo
com a literatura, este estilo está mesmo a ser abandonado pelos treinadores de
jovens e mesmo pelos dos adultos, pois a sua adoção retira aos atletas a sua
capacidade de pensar, fazendo deles “escravos”. Assim, este estilo não é o mais
apropriado para quem segue a máxima de Martens (1998; 2002), a que me referi na
crónica anterior, “primeiro os jovens atletas, depois as vitórias”.
Assim,
parece ser o treinador democrático, aquele que mais se adapta ao treino, em
especial ao treino de jovens, pois é este que mais ajuda os atletas a
participar num processo de longo prazo, como é o caso do processo de formação. Um
treinador que adopte este estilo, é um treinador que direciona os seus atletas
e dando-lhes instrução quando é necessário, mas sabe como e quando é necessário
deixar serem os atletas a decidirem e a assumirem as suas responsabilidades
(Martens, 1998, 2002). Assim e de acordo com o mesmo autor, parece ser este o
estilo de treinador mais eficaz, porque proporciona uma maior autoconfiança ao
atleta, fomenta um melhor clima de ensino, melhora a comunicação e a motivação
e parece ser o estilo mais divertido para os atletas. Com este estilo, o
treinador motiva os seus atletas, não pelo medo, mas sim pelo desejo de
satisfação pessoal.
Da minha experiência
como treinador, como ex-praticante e como professor, quando existe uma
democracia, na qual todos contribuem para a definição dos objectivos, o clima na
atividade é sem dúvida muito melhor, e o empenho e a satisfação dos
intervenientes é muito superior do que quando as coisas são impostas, podendo
mesmo dizer que num clima e numa filosofia de vida e treino desta, é muito mais
fácil de superar as dificuldades e as barreiras que nos vão aparecendo dia a
dia. Por alguma razão e fazendo uma analogia entre contexto desportivo e
político, parece ser consensual que os regimes democráticos são mais
harmoniosos que os regimes ditatoriais em que o poder se centra numa pessoa, a
qual não ouve a opinião dos outros, vivendo as pessoas neste último regime num
clima de descontentamento e de desmotivação.
Parece evidente
que o estilo democrático é a melhor escolha quando se trata do treino de
jovens, embora por vezes seja necessário assumir algumas decisões, que
aparentemente são de um estilo autoritário.
Quanto ao
estilo permissivo, parece-me um estilo sem qualquer benefício, pois passa-se de
um processo de formação desportiva que deve ser orientado e controlado, para
uma situação que se aproxima muito do caos, embora por vezes e de uma forma
consciente também seja preciso tomar decisões que aparentemente pareçam
permissivas.
Saudações
desportivas e até à próxima crónica.
Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo
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