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quarta-feira, 4 de março de 2015

Treinador: que estilo?


(crónica de Nuno Gil)

Cada treinador é um treinador, cada um tem os seus objectivos, motivações e filosofias diferentes. De acordo com (Martens, 1998), existem vários estilos de treinador, isto é, treinadores com maneiras diferentes de exercer a sua função, treinadores com formas diferentes de ensinar e de se relacionar com os atletas.

De acordo com o mesmo autor e com Castelo & Barreto (1996) podemos dividir os treinadores em três tipos: os autoritários, os permissivos e os democráticos.

Autoritários ou como Martens (2002) denomina ditadores, são aqueles treinadores para quem só a sua opinião conta e só ele é que tem a possibilidade de tomar decisões, para estes treinadores o atleta só serve para obedecer às suas ordens.

Os permissivos ou dóceis, são aqueles treinadores que têm uma atitude passiva, são treinadores considerados preguiçosos, que deixam os atletas fazerem aquilo que lhes apetece, tomando o mínimo de decisões possível, intervindo apenas em situações de perigo. São treinadores que dão poucas instruções, servem de condutor da atividade, mas de uma forma restrita e apenas resolvem os casos de indisciplina quando há uma necessidade extrema.

Os democráticos ou cooperativos, são aqueles que partilham com os atletas as decisões respeitantes ao grupo e/ou atleta, atendendo ao nível de maturidade dos atletas e consequente capacidade de tomar decisões, são um tipo de treinadores que embora reconheçam a sua responsabilidade na hora de liderar e orientar os atletas, reconhecem também que os jovens não devem nem podem chegar à idade adulta sem aprenderem a tomar decisões.

Classificados que estão os estilos de treinadores, qual ou quais são os melhores?

O estilo autoritário foi durante muito tempo o mais seguido pelos treinadores. Estes treinadores limitavam-se a dar ordens, no entanto, atualmente os jovens já não aceitam de bom grado um treinador com este estilo, pois gostam de saber o porquê de estarem a fazer as tarefas propostas. Este estilo até pode resultar, em alguns contextos, se o objectivo principal for ganhar, contudo pode originar que os jovens não tenham o prazer total da sua prática desportiva. De acordo com a literatura, este estilo está mesmo a ser abandonado pelos treinadores de jovens e mesmo pelos dos adultos, pois a sua adoção retira aos atletas a sua capacidade de pensar, fazendo deles “escravos”. Assim, este estilo não é o mais apropriado para quem segue a máxima de Martens (1998; 2002), a que me referi na crónica anterior,  “primeiro os jovens atletas, depois as vitórias”.

Assim, parece ser o treinador democrático, aquele que mais se adapta ao treino, em especial ao treino de jovens, pois é este que mais ajuda os atletas a participar num processo de longo prazo, como é o caso do processo de formação. Um treinador que adopte este estilo, é um treinador que direciona os seus atletas e dando-lhes instrução quando é necessário, mas sabe como e quando é necessário deixar serem os atletas a decidirem e a assumirem as suas responsabilidades (Martens, 1998, 2002). Assim e de acordo com o mesmo autor, parece ser este o estilo de treinador mais eficaz, porque proporciona uma maior autoconfiança ao atleta, fomenta um melhor clima de ensino, melhora a comunicação e a motivação e parece ser o estilo mais divertido para os atletas. Com este estilo, o treinador motiva os seus atletas, não pelo medo, mas sim pelo desejo de satisfação pessoal.

Da minha experiência como treinador, como ex-praticante e como professor, quando existe uma democracia, na qual todos contribuem para a definição dos objectivos, o clima na atividade é sem dúvida muito melhor, e o empenho e a satisfação dos intervenientes é muito superior do que quando as coisas são impostas, podendo mesmo dizer que num clima e numa filosofia de vida e treino desta, é muito mais fácil de superar as dificuldades e as barreiras que nos vão aparecendo dia a dia. Por alguma razão e fazendo uma analogia entre contexto desportivo e político, parece ser consensual que os regimes democráticos são mais harmoniosos que os regimes ditatoriais em que o poder se centra numa pessoa, a qual não ouve a opinião dos outros, vivendo as pessoas neste último regime num clima de descontentamento e de desmotivação.

Parece evidente que o estilo democrático é a melhor escolha quando se trata do treino de jovens, embora por vezes seja necessário assumir algumas decisões, que aparentemente são de um estilo autoritário.

Quanto ao estilo permissivo, parece-me um estilo sem qualquer benefício, pois passa-se de um processo de formação desportiva que deve ser orientado e controlado, para uma situação que se aproxima muito do caos, embora por vezes e de uma forma consciente também seja preciso tomar decisões que aparentemente pareçam permissivas.

Saudações desportivas e até à próxima crónica.

Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo

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