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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Treinador: que filosofia?


(crónica de Nuno Gil)

Primeiro os praticantes, depois as vitórias!” Martens (1998)

A filosofia do treinador está muito relacionada com os seus objectivos.

Podemos dizer que existem dois tipos de filosofia do treinador: uma filosofia baseada na vitória e uma filosofia vitoriosa, sendo a primeira aquela que se baseia maioritariamente nos objectivos a curto prazo e que coloca grande ênfase na vitória e a segunda aquela que se traduz no processo de formação desportiva, como um processo de treino a longo prazo, com objectivos adequados aos jovens atletas e às suas etapas de desenvolvimento e maturação e na qual vitória tem um papel secundário.

Tenho total consciência que é difícil implementar esta última filosofia nos clubes, pois nem sempre os dirigentes estão dispostos a esperar algum tempo pelos resultados. Mas a culpa não morre solteira nos dirigentes, uma vez que os próprios treinadores de infanto-juvenis, cultivam a imagem de que os melhores na sua função, são aqueles que ganham muitas vezes. Mas infelizmente a culpa não se fica só por estes dois agentes desportivos, pois a nossa sociedade, privilegia na maior parte das vezes aqueles que obtêm títulos e não aqueles que promovem a formação integral dos jovens.

As filosofias que se baseiam na premissa “primeiro os atletas, depois a vitória!” assentam em princípios básicos expressos na Carta dos Direitos dos Jovens Atletas que de seguida apresento: o direito a praticar desporto; o direito a participar em competições num nível adaptado à maturidade e à capacidade de cada um; o direito de ter uma orientação adulta qualificada; o direito de praticar desporto como crianças e não à moda dos adultos; o direito de comparticipar na direção e nas decisões relativas à sua participação desportiva; o direito de praticar desporto em locais seguros e saudáveis; o direito a ter uma preparação apropriada para fazer desporto; o direito de uma oportunidade de se esforçar para vencer; o direito a ser tratado com dignidade; o direito se sentir prazer no desporto.

Direitos estes que em minha convicção devem ser reforçados por algumas premissas apresentadas por Bizzini citado por Mil-Homens (2003): o direito a ter tempo para descansar; o direito a não ser um campeão e ainda a premissa apresentada por Adelino et al.: o direito a ter idênticas oportunidades às dos restantes jovens, no percurso que, eventualmente, o poderá levar ao sucesso.

Todos os direitos anteriormente apresentados são de inquestionável importância, pelo que me sinto na obrigação de fazer aqui algumas questões para refletirmos sobre os mesmos, com o compromisso de numa das próximas crónicas dar as minhas respostas.

Será que se deve negar o acesso ao desporto só porque o jovem é gordinho, ou porque é baixinho, ou porque é desajeitado? Ou devemos procurar a sua integração e otimizar as suas características?

Terão todos os nossos jovens atletas que ser campeões? Será isso um fator preponderante no seu sucesso desportivo na idade adulta?

Serão os direitos anteriormente apresentados questionáveis? Serão esses direitos de fácil operacionalização?

É garantida por parte dos treinadores a igualdade de oportunidades aos seus atletas?

Será que estamos a garantir o direito de os nossos jovens atletas serem simplesmente, jovens ativamente felizes?

Esperando que todos os leitores respondam para si próprios a todas estas questões, independentemente de serem treinadores, dirigentes, pais ou simples apoiantes, deixo o convite a partilharem as vossas respostas.

Saudações desportivas e até à próxima crónica. 

Nota final -  o autor da crónica disponibiliza a literatura referenciada a quem o solicitar.

Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo

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