(crónica de Nuno Gil)
“Primeiro
os praticantes, depois as vitórias!” Martens (1998)
A filosofia
do treinador está muito relacionada com os seus objectivos.
Podemos dizer
que existem dois tipos de filosofia do treinador: uma filosofia baseada na
vitória e uma filosofia vitoriosa, sendo a primeira aquela que se baseia
maioritariamente nos objectivos a curto prazo e que coloca grande ênfase na
vitória e a segunda aquela que se traduz no processo de formação desportiva,
como um processo de treino a longo prazo, com objectivos adequados aos jovens
atletas e às suas etapas de desenvolvimento e maturação e na qual vitória tem
um papel secundário.
Tenho total
consciência que é difícil implementar esta última filosofia nos clubes, pois
nem sempre os dirigentes estão dispostos a esperar algum tempo pelos resultados.
Mas a culpa não morre solteira nos dirigentes, uma vez que os próprios
treinadores de infanto-juvenis, cultivam a imagem de que os melhores na sua
função, são aqueles que ganham muitas vezes. Mas infelizmente a culpa não se
fica só por estes dois agentes desportivos, pois a nossa sociedade, privilegia na
maior parte das vezes aqueles que obtêm títulos e não aqueles que promovem a
formação integral dos jovens.
As filosofias
que se baseiam na premissa “primeiro os atletas, depois a vitória!” assentam
em princípios básicos expressos na Carta dos Direitos dos Jovens Atletas que de
seguida apresento: o direito a praticar desporto;
o direito a participar em competições
num nível adaptado à maturidade e à capacidade de cada um; o direito de ter
uma orientação adulta qualificada; o
direito de praticar desporto como crianças e não à moda dos adultos; o direito
de comparticipar na direção e nas decisões relativas à sua participação
desportiva; o direito de praticar desporto em locais seguros e saudáveis; o direito a ter uma preparação apropriada para fazer
desporto; o direito de uma oportunidade
de se esforçar para vencer; o direito a ser tratado com dignidade; o direito se sentir prazer no desporto.
Direitos
estes que em minha convicção devem ser reforçados por algumas premissas apresentadas
por Bizzini citado por Mil-Homens (2003): o direito a ter tempo para descansar; o direito
a não ser um campeão e ainda a
premissa apresentada por Adelino et al.: o direito a ter idênticas oportunidades às dos restantes jovens, no percurso
que, eventualmente, o poderá levar ao sucesso.
Todos os
direitos anteriormente apresentados são de inquestionável importância, pelo que
me sinto na obrigação de fazer aqui algumas questões para refletirmos sobre os
mesmos, com o compromisso de numa das próximas crónicas dar as minhas
respostas.
Será que se
deve negar o acesso ao desporto só porque o jovem é gordinho, ou porque é
baixinho, ou porque é desajeitado? Ou devemos procurar a sua integração e
otimizar as suas características?
Terão todos
os nossos jovens atletas que ser campeões? Será isso um fator preponderante no
seu sucesso desportivo na idade adulta?
Serão os
direitos anteriormente apresentados questionáveis? Serão esses direitos de
fácil operacionalização?
É garantida
por parte dos treinadores a igualdade de oportunidades aos seus atletas?
Será que
estamos a garantir o direito de os nossos jovens atletas serem simplesmente,
jovens ativamente felizes?
Esperando
que todos os leitores respondam para si próprios a todas estas questões,
independentemente de serem treinadores, dirigentes, pais ou simples apoiantes,
deixo o convite a partilharem as vossas respostas.
Saudações
desportivas e até à próxima crónica.
Nota final - o autor da crónica disponibiliza a literatura
referenciada a quem o solicitar.
Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo
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