(crónica de Célia Dias Lopes)
Um regime alimentar adequado e
variado, em circunstâncias normais, fornece a um ser humano todos os nutrientes
necessários nas quantidades estabelecidas e recomendadas por dados científicos
ao seu bom desenvolvimento e à sua manutenção num bom estado de saúde.
Entende-se por “suplemento
alimentar”, os géneros alimentícios que se destinam a complementar e ou
suplementar o regime alimentar normal e que constitui fontes concentradas de
determinados nutrientes ou outras substâncias com efeito nutricional ou
fisiológico, comercializadas em forma doseada, tais como cápsulas, pastilhas,
comprimidos, pílulas, ampolas de líquidos, frascos com conta-gotas ou outras
formas similares de líquidos ou pós que se destinam a ser tomados em unidades
medidas de quantidade reduzida.
Uma nutrição adequada é sem
dúvida um determinante crítico da performance desportiva. O que um atleta come
e bebe afeta a saúde, o peso e composição corporais, a disponibilidade de
substrato durante o exercício, o período de recuperação após o exercício e, em
última instância, a sua performance. As escolhas alimentares de um atleta
podem, por isso, fazer a diferença entre o seu sucesso ou fracasso desportivos.
Certamente que a correta alimentação não garante a vitória, mas uma alimentação
desadequada pode impedir que um atleta talentoso atinja plenamente os seus
objetivos.
Uma alimentação com alimentos
variados e nas quantidades corretas para atingir as necessidades energéticas
pode fornecer todos os nutrientes em quantidades adequadas. Contudo, a pressão
do marketing da indústria dos suplementos sobre os atletas e profissionais de
desporto desenvolveu e enraizou a crença de que os suplementos nutricionais são
essenciais para o ótimo desempenho desportivo. Na verdade, o mundo do desporto
está cheio de produtos que prometem o aumento da resistência, a melhoria da
recuperação, o aumento da massa magra, a diminuição da massa gorda, a redução
do risco de doenças ou a modulação de outras características que melhorem o
desempenho. Os atletas são particularmente sensíveis a estas promessas, o que
os torna um grupo-alvo importante para a multimilionária indústria dos
suplementos.
A informação sobre o uso de
suplementos nutricionais no desporto é imensa e muitas das vezes não tem um
rigor científico, ou seja não é baseado em estudos, mas em press-releases
(comunicados feitos por um indivíduo ou organização).
Os atletas procuram
frequentemente uma alimentação alternativa para aumentar a sua performance. Os
suplementos nutricionais são um negócio de milhões de euros que oferecem, em
alguns casos, vantagens e noutros casos desvantagens. Embora os profissionais
de nutrição não sejam apologistas do uso de suplementos nutricionais em detrimento
de uma alimentação saudável e equilibrada, é importante, para um melhor
conhecimento público, focar a sua existência e a forma como são utilizados
pelos desportistas que a eles recorrem.
Em alguns casos, quando
receitados por um profissional de saúde para compensar faltas de nutrientes por
motivos de deficiência física, os suplementos podem ter um papel fundamental na
manutenção da saúde. Quando utilizados de forma inconsciente e por outros
motivos que não a manutenção da saúde, os suplementos podem ser fortemente
prejudiciais, podendo mesmo provocar a morte.
Contudo, são muitos os atletas
que consomem suplementos nutricionais, apesar da eficácia da maioria deles não
estar comprovada.
É, também, frequente os atletas
consumirem múltiplos suplementos, o que levanta a problemática da possível
existência de interações entre os mesmos.
Foi feito um estudo em Portugal
com 300 atletas portugueses de 13 modalidades diferentes. 2 em cada 3 usam
suplementos alimentares.
Os suplementos mais usados são os
multivitamínicos e minerais, diz-se que os atletas têm necessidades aumentadas
de vitaminas e minerais mas não é verdade. Avaliaram os hábitos alimentares dos
que tomavam os suplementos multivitamínicos e minerais em relação aos que não
tomavam, e na verdade os que tinham uma alimentação mais saudável e
nutricionalmente equilibrada é que tomavam.
Evidência científica: Uma alimentação com alimentos variados e nas
quantidades corretas para atingir as necessidades energéticas fornece todos os
nutrientes necessários à manutenção da saúde e à prática desportiva e que uma
suplementação em níveis superiores ao recomendado não leva a benefícios.
Muitos desses atletas tomavam as
multivitaminas e minerais com a ideia de ter mais energia, não é verdade, as
vitaminas e os minerais não dão energia, ou que lhes vai abrir o apetite, mas o
consumo de complexos multivitamínicos não tem relação com o aumento de apetite.
Existe problema em tomar? Não
existe, o problema surge quando se toma uma mega dose de um só nutriente que poderá
tornar-se potencialmente tóxico, por exemplo o consumo elevado de zinco pode
inibir a absorção de cobre, o consumo elevado de magnésio tem efeito laxante,
etc…
A solução é consumir hortícolas e
vegetais (brócolos, nabiças, feijão verde, couve, grelos, etc…), assim garante
todas as vitaminas e minerais.
Mais de 40% dos atletas tomam
antioxidantes.
A suplementação com antioxidantes
para atletas está indicada apenas quando houver ingestão alimentar insuficiente
de nutrientes antioxidantes ou algum sinal de deficiência nutricional. Apesar
dos benefícios para a saúde, o exercício físico extenuante pode aumentar a
formação de espécies reativas de oxigênio (radicais livres) que podem causar
danos celulares. Quando produzido em excesso, os radicais livres podem promover
a oxidação celular, danos na estrutura do DNA, envelhecimento precoce, além de
danificar a função do músculo esquelético, causando dor e, afetando assim o
desempenho do exercício.
Com base nisso, a suplementação
com nutrientes antioxidantes poderia minimizar os efeitos do estresse oxidativo
durante a atividade física. Entretanto, essa suplementação nem sempre é
necessária, pois o exercício físico em si é capaz de estimular o
músculo-esquelético a potencializar a ação de antioxidantes endógenos, o que é
suficiente para compensar os efeitos negativos do stress oxidativo induzido
por estímulos mecânicos extenuantes.
Os resultados de estudos que
realizaram a suplementação com antioxidantes são controversos. Alguns estudos
demonstraram que a suplementação em indivíduos com boa ingestão alimentar de
antioxidantes não melhora o desempenho do exercício, e que o excesso de
antioxidante pela suplementação pode até prejudicar o exercício.
Na próxima crónica fique a saber
o que a evidência científica diz sobre o magnésio e cãibras, a vantagem das
bebidas desportivas, se os suplementos proteicos aumentam a massa muscular e se
a cafeína e creatina tem vantagens para o desportista.
Célia Dias Lopes é dietista.
Licenciada em Dietética desde 1997 e pós-graduada em Saúde, Aconselhamento e Tendências de Consumo, ambos pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.
Sócio-gerente da empresa NutriCuida Consultoria e Nutrição, Lda.
É formadora e consultora na área da nutrição. Autora de inúmeras comunicações em congressos.
Autora do Livro " a e i o u da dieta saudável do doente em hemodiálise".
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas e da Ordem dos Nutricionistas.
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