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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O que os estudos científicos dizem sobre os suplementos nutricionais no desporto


(crónica de Célia Dias Lopes)


Um regime alimentar adequado e variado, em circunstâncias normais, fornece a um ser humano todos os nutrientes necessários nas quantidades estabelecidas e recomendadas por dados científicos ao seu bom desenvolvimento e à sua manutenção num bom estado de saúde.

Entende-se por “suplemento alimentar”, os géneros alimentícios que se destinam a complementar e ou suplementar o regime alimentar normal e que constitui fontes concentradas de determinados nutrientes ou outras substâncias com efeito nutricional ou fisiológico, comercializadas em forma doseada, tais como cápsulas, pastilhas, comprimidos, pílulas, ampolas de líquidos, frascos com conta-gotas ou outras formas similares de líquidos ou pós que se destinam a ser tomados em unidades medidas de quantidade reduzida.

Uma nutrição adequada é sem dúvida um determinante crítico da performance desportiva. O que um atleta come e bebe afeta a saúde, o peso e composição corporais, a disponibilidade de substrato durante o exercício, o período de recuperação após o exercício e, em última instância, a sua performance. As escolhas alimentares de um atleta podem, por isso, fazer a diferença entre o seu sucesso ou fracasso desportivos. Certamente que a correta alimentação não garante a vitória, mas uma alimentação desadequada pode impedir que um atleta talentoso atinja plenamente os seus objetivos.

Uma alimentação com alimentos variados e nas quantidades corretas para atingir as necessidades energéticas pode fornecer todos os nutrientes em quantidades adequadas. Contudo, a pressão do marketing da indústria dos suplementos sobre os atletas e profissionais de desporto desenvolveu e enraizou a crença de que os suplementos nutricionais são essenciais para o ótimo desempenho desportivo. Na verdade, o mundo do desporto está cheio de produtos que prometem o aumento da resistência, a melhoria da recuperação, o aumento da massa magra, a diminuição da massa gorda, a redução do risco de doenças ou a modulação de outras características que melhorem o desempenho. Os atletas são particularmente sensíveis a estas promessas, o que os torna um grupo-alvo importante para a multimilionária indústria dos suplementos.

A informação sobre o uso de suplementos nutricionais no desporto é imensa e muitas das vezes não tem um rigor científico, ou seja não é baseado em estudos, mas em press-releases (comunicados feitos por um indivíduo ou organização).

Os atletas procuram frequentemente uma alimentação alternativa para aumentar a sua performance. Os suplementos nutricionais são um negócio de milhões de euros que oferecem, em alguns casos, vantagens e noutros casos desvantagens. Embora os profissionais de nutrição não sejam apologistas do uso de suplementos nutricionais em detrimento de uma alimentação saudável e equilibrada, é importante, para um melhor conhecimento público, focar a sua existência e a forma como são utilizados pelos desportistas que a eles recorrem.

Em alguns casos, quando receitados por um profissional de saúde para compensar faltas de nutrientes por motivos de deficiência física, os suplementos podem ter um papel fundamental na manutenção da saúde. Quando utilizados de forma inconsciente e por outros motivos que não a manutenção da saúde, os suplementos podem ser fortemente prejudiciais, podendo mesmo provocar a morte.

Contudo, são muitos os atletas que consomem suplementos nutricionais, apesar da eficácia da maioria deles não estar comprovada.

É, também, frequente os atletas consumirem múltiplos suplementos, o que levanta a problemática da possível existência de interações entre os mesmos.

Foi feito um estudo em Portugal com 300 atletas portugueses de 13 modalidades diferentes. 2 em cada 3 usam suplementos alimentares.

Os suplementos mais usados são os multivitamínicos e minerais, diz-se que os atletas têm necessidades aumentadas de vitaminas e minerais mas não é verdade. Avaliaram os hábitos alimentares dos que tomavam os suplementos multivitamínicos e minerais em relação aos que não tomavam, e na verdade os que tinham uma alimentação mais saudável e nutricionalmente equilibrada é que tomavam.

Evidência científica: Uma alimentação com alimentos variados e nas quantidades corretas para atingir as necessidades energéticas fornece todos os nutrientes necessários à manutenção da saúde e à prática desportiva e que uma suplementação em níveis superiores ao recomendado não leva a benefícios.

Muitos desses atletas tomavam as multivitaminas e minerais com a ideia de ter mais energia, não é verdade, as vitaminas e os minerais não dão energia, ou que lhes vai abrir o apetite, mas o consumo de complexos multivitamínicos não tem relação com o aumento de apetite.

Existe problema em tomar? Não existe, o problema surge quando se toma uma mega dose de um só nutriente que poderá tornar-se potencialmente tóxico, por exemplo o consumo elevado de zinco pode inibir a absorção de cobre, o consumo elevado de magnésio tem efeito laxante, etc…

A solução é consumir hortícolas e vegetais (brócolos, nabiças, feijão verde, couve, grelos, etc…), assim garante todas as vitaminas e minerais.

Mais de 40% dos atletas tomam antioxidantes.

A suplementação com antioxidantes para atletas está indicada apenas quando houver ingestão alimentar insuficiente de nutrientes antioxidantes ou algum sinal de deficiência nutricional. Apesar dos benefícios para a saúde, o exercício físico extenuante pode aumentar a formação de espécies reativas de oxigênio (radicais livres) que podem causar danos celulares. Quando produzido em excesso, os radicais livres podem promover a oxidação celular, danos na estrutura do DNA, envelhecimento precoce, além de danificar a função do músculo esquelético, causando dor e, afetando assim o desempenho do exercício.

Com base nisso, a suplementação com nutrientes antioxidantes poderia minimizar os efeitos do estresse oxidativo durante a atividade física. Entretanto, essa suplementação nem sempre é necessária, pois o exercício físico em si é capaz de estimular o músculo-esquelético a potencializar a ação de antioxidantes endógenos, o que é suficiente para compensar os efeitos negativos do stress oxidativo induzido por estímulos mecânicos extenuantes.

Os resultados de estudos que realizaram a suplementação com antioxidantes são controversos. Alguns estudos demonstraram que a suplementação em indivíduos com boa ingestão alimentar de antioxidantes não melhora o desempenho do exercício, e que o excesso de antioxidante pela suplementação pode até prejudicar o exercício.


Na próxima crónica fique a saber o que a evidência científica diz sobre o magnésio e cãibras, a vantagem das bebidas desportivas, se os suplementos proteicos aumentam a massa muscular e se a cafeína e creatina tem vantagens para o desportista.

Célia Dias Lopes é dietista. 
Licenciada em Dietética desde 1997 e pós-graduada em Saúde, Aconselhamento e Tendências de Consumo, ambos pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.
Sócio-gerente da empresa NutriCuida Consultoria e Nutrição, Lda.
É formadora e consultora na área da nutrição. Autora de inúmeras comunicações em congressos.
Autora do Livro " a e i o u da dieta saudável do doente em hemodiálise".
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas e da Ordem dos Nutricionistas.

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