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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Que caminho queremos para o desporto em Portugal?

 

(crónica de Nuno Gil)

Na crónica anterior escrevi sobre a necessidade de se iniciar cedo a atividade física e de prolongá-la o mais possível.

Mas para tal ser possível, basta a vontade de cada um de nós? Claramente que não, pois se assim fosse não teríamos uma percentagem tão baixa da nossa população desportivamente ativos.

E de quem é a culpa? Do sistema, ou melhor da falta deste.

Considero que em Portugal o sistema desportivo é algo difícil de entender, isto para não dizer que em Portugal não existe sistema desportivo.

Em países com um desenvolvimento desportivo de nível superior, existe a articulação e envolvimento, entre estado, federações, associações, clubes, escolas, dirigentes, treinadores, atletas, pais e restantes agentes em volta de um projeto comum, cujo objetivo é a elevação dos níveis quantitativos e qualitativos de prática desportiva da população.

Considero que em Portugal todas estas entidades e agentes, vêem apenas o seu umbigo, esquecendo-se que cada um deles é apenas uma árvore no meio duma imensa floresta. No nosso país, cada modalidade trabalha em prol de si própria, procurando ter melhores resultados que as outras, caindo mesmo no radicalismo de que só a sua modalidade pode ser praticada e as outras não interessam. Para mim esse não é o caminho, como facilmente podemos constatar pelos índices de participação na prática desportiva e pelos resultados nas competições internacionais.

A manter o atual cenário, as modalidades de maior mediatismo, vão continuar a ter mais recursos e as restantes continuarão a viver na sombra, mesmo que os resultados das primeiras sejam manifestamente piores que os destas.

Há, em minha opinião a necessidade de se avaliar o trabalho desenvolvido atualmente, não só pelos resultados, mas também pela contribuição do mesmo para o fomento de hábitos de prática desportiva.

O trabalho dos clubes e outras entidades promotoras de atividades desportivas deverá ter sempre como objetivo principal a criação de hábitos de prática desportiva para a vida inteira.

Um baixo índice de prática desportiva e um elevado índice de abandono da mesma são indicadores de que algo está mal.

Para mim só há uma solução, a criação de um plano de desenvolvimento desportivo, elaborado pelos diferentes agentes desportivos,  associado a uma campanha de promoção e explicação do mesmos, para que todos os agentes desportivos o operacionalizem e desenvolvam de forma cooperativa, em prol da população.

Um plano que promova os hábitos de prática desportiva de forma a que a base da pirâmide seja o mais próximo possível da totalidade da população e que a pirâmide o deixe de ser, passando a ser um paralelepípedo, no topo do qual existirá uma percentagem de atletas que atingiram a alta competição e em que os restantes se mantêm ativos nas outras vertentes do desporto.

Na próxima crónica, procurarei escrever sobre o que são as linhas mestres dum plano deste tipo e as vantagens de implementação do mesmo.

Termino com uma frase, da qual desconheço o autor, mas que me foi dada a conhecer por um professor norueguês com responsabilidades olímpicas: as medalhas e vitórias internacionais, não são um fim, mas uma consequência de um bom sistema desportivo e nada valem se a população desse mesmo país não for uma população maioritariamente ativa em qualquer idade, em especial na idade adulta.

Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo

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