(crónica de Nuno Gil)
Na crónica
anterior escrevi sobre a necessidade de se iniciar cedo a atividade física e de
prolongá-la o mais possível.
Mas para tal ser
possível, basta a vontade de cada um de nós? Claramente que não, pois se assim
fosse não teríamos uma percentagem tão baixa da nossa população desportivamente
ativos.
E de quem é a
culpa? Do sistema, ou melhor da falta deste.
Considero que em
Portugal o sistema desportivo é algo difícil de entender, isto para não dizer
que em Portugal não existe sistema desportivo.
Em países com um
desenvolvimento desportivo de nível superior, existe a articulação e
envolvimento, entre estado, federações, associações, clubes, escolas,
dirigentes, treinadores, atletas, pais e restantes agentes em volta de um
projeto comum, cujo objetivo é a elevação dos níveis quantitativos e
qualitativos de prática desportiva da população.
Considero que em
Portugal todas estas entidades e agentes, vêem apenas o seu umbigo,
esquecendo-se que cada um deles é apenas uma árvore no meio duma imensa
floresta. No nosso país, cada modalidade trabalha em prol de si própria,
procurando ter melhores resultados que as outras, caindo mesmo no radicalismo
de que só a sua modalidade pode ser praticada e as outras não interessam. Para
mim esse não é o caminho, como facilmente podemos constatar pelos índices de
participação na prática desportiva e pelos resultados nas competições
internacionais.
A manter o atual
cenário, as modalidades de maior mediatismo, vão continuar a ter mais recursos
e as restantes continuarão a viver na sombra, mesmo que os resultados das
primeiras sejam manifestamente piores que os destas.
Há, em minha
opinião a necessidade de se avaliar o trabalho desenvolvido atualmente, não só pelos
resultados, mas também pela contribuição do mesmo para o fomento de hábitos de
prática desportiva.
O trabalho dos
clubes e outras entidades promotoras de atividades desportivas deverá ter
sempre como objetivo principal a criação de hábitos de prática desportiva para
a vida inteira.
Um baixo índice
de prática desportiva e um elevado índice de abandono da mesma são indicadores
de que algo está mal.
Para mim só há uma
solução, a criação de um plano de desenvolvimento desportivo, elaborado pelos
diferentes agentes desportivos,
associado a uma campanha de promoção e explicação do mesmos, para que
todos os agentes desportivos o operacionalizem e desenvolvam de forma
cooperativa, em prol da população.
Um plano que
promova os hábitos de prática desportiva de forma a que a base da pirâmide seja
o mais próximo possível da totalidade da população e que a pirâmide o deixe de
ser, passando a ser um paralelepípedo, no topo do qual existirá uma percentagem
de atletas que atingiram a alta competição e em que os restantes se mantêm
ativos nas outras vertentes do desporto.
Na próxima crónica,
procurarei escrever sobre o que são as linhas mestres dum plano deste tipo e as
vantagens de implementação do mesmo.
Termino com uma
frase, da qual desconheço o autor, mas que me foi dada a conhecer por um
professor norueguês com responsabilidades olímpicas: as medalhas e vitórias
internacionais, não são um fim, mas uma consequência de um bom sistema
desportivo e nada valem se a população desse mesmo país não for uma população
maioritariamente ativa em qualquer idade, em especial na idade adulta.
Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo
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