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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Uma viagem entre Bragança e Abrantes, feita de Bicicleta. Parte 7


(crónica de Carlos Bernardo)

Dia 6 18/10/2014 Lousã - Tomar

Entrava no penúltimo dia desta aventura e no meu último dia com menos de 30 anos. Já me sentia tão próximo, já só pensava em chegar. Sentia que estava fora há muito, tantas semanas que passam num flash e esta estava a ser vivida quase minuto a minuto, era um dos objectivos.

Saí de Lousã, passei por aldeias, passei por Miranda do Corvo, passei por aldeias, passei por serras, passei por gente na sua labuta do dia e entrei na estrada nacional, um pouco à frente de Penela. Entrei em território conhecido, como estudei em Coimbra, fiz aquele caminho, Coimbra-Tomar-Abrantes, vezes sem conta. Por um lado, entrava na minha zona de conforto, por outro senti que o que tinha para descobrir tinha acabado ali. Mas nunca tinha feito aquele percurso de bicicleta, seria certamente um pouco diferente (é mais cansativo) .

Sem necessitar de GPS sabia sempre o nome da próxima localidade. Quando a fome apertou, sabia onde parar. Parei no Restaurante D. Maria, junto às bombas de abastecimento lá do sítio. Comi uma bifana de porco preto, especialidade da casa, muito bom. Tão bom como a bifana foi a conversa com o Sr. João, dono do estabelecimento. Eu falei da minha viagem, ele falou da sua terra e do potencial que tem. Falou do seu mais recente projecto, Quintinha do Casal Ruivo. Mostrou-me uma bicicleta que lhe tinham oferecido. Resumindo, foi muito simpático. São destes momentos, que se fazem grandes viagens.

Lá tive que me pôr ao caminho outra vez. Antes de chegar a Tomar as pernas deram o primeiro sinal de "vai com calma, que já andas nisto há muitos dias", foi um misto de dor nas pernas normal e uma dor enviada pelas costas (mochila gigante) para as pernas. Sentei-me um pouco, já conseguia ver o Convento de Cristo, foi só esperar uns minutos e estava operacional.

Cheguei a Tomar. Senti que só faltava um pequeno passo. Podia acabar a viagem, mas o objectivo era chegar no dia de anos, tipo etapa de consagração. Fiquei no Hostel 2300, local que recomendo vivamente, pessoal muito simpático e conceito muito giro. É este o caminho para o nosso território ter mais qualidade.

Mas o ponto chave da minha chegada a Tomar, era que a Liliana vinha jantar comigo. Gostei muito de a ver, sentia a falta dela (acho que ela também já sentia a minha falta, embora a nossa casa de certeza que estava muito mais arrumada). A primeira coisa que ela me disse "não estás mais magro!". Eu queixei-me muitas vezes, que era duro, que estava mau tempo, que fazia muitos quilómetros, mas nunca me queixei de fome (agora a verdade dos factos, no ano passado na Rota do Guadiana, perdi mais de 5kg em 4 dias, como aqui eram 7 dias a pedalar, ela fez as contas e estava à espera de me ver com, aproximadamente, menos 10kg), vinha quase com o mesmo aspecto e não com aspecto de cão sem almoço. 

Jantar, uma voltinha na cidade e dormir. Amanhã era o grande dia.

Carlos Bernardo

Nascido e criado em Abrantes, onde vive e nunca desejou ser de outro lugar. Apesar disso adora viajar. Mais do que uma foto de viagem, gosta de uma boa conversa. Criou o blog O Meu Escritório é lá Fora! em 2013. Foi nomeado para melhor Blog de Viagens Pessoal, no BTL Travel Blogger Awards, e considerado como um dos 10 melhores blogs de viagem nacionais.

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