(crónica de Carlos Bernardo)
Dia 6 18/10/2014 Lousã - Tomar
Entrava no penúltimo dia desta aventura e no meu último dia com
menos de 30 anos. Já me sentia tão próximo, já só pensava em chegar. Sentia que estava fora há muito, tantas semanas que passam num flash e esta estava a
ser vivida quase minuto a minuto, era um dos objectivos.
Saí de Lousã, passei por aldeias, passei por Miranda do Corvo,
passei por aldeias, passei por serras, passei por gente na sua labuta do dia e
entrei na estrada nacional, um pouco à frente de Penela. Entrei em território
conhecido, como estudei em Coimbra, fiz aquele caminho, Coimbra-Tomar-Abrantes,
vezes sem conta. Por um lado, entrava na minha zona de conforto, por outro
senti que o que tinha para descobrir tinha acabado ali. Mas nunca tinha feito
aquele percurso de bicicleta, seria certamente um pouco diferente (é mais
cansativo) .
Sem necessitar de GPS sabia sempre o nome da próxima
localidade. Quando a fome apertou, sabia onde parar. Parei no Restaurante D.
Maria, junto às bombas de abastecimento lá do sítio. Comi uma bifana de porco
preto, especialidade da casa, muito bom. Tão bom como a bifana foi a conversa
com o Sr. João, dono do estabelecimento. Eu falei da minha viagem, ele falou da
sua terra e do potencial que tem. Falou do seu mais recente projecto, Quintinha
do Casal Ruivo. Mostrou-me uma bicicleta que lhe tinham oferecido. Resumindo,
foi muito simpático. São destes momentos, que se fazem grandes viagens.
Lá tive que me pôr ao caminho outra vez. Antes de chegar a
Tomar as pernas deram o primeiro sinal de "vai com calma, que já andas
nisto há muitos dias", foi um misto de dor nas pernas normal e uma dor
enviada pelas costas (mochila gigante) para as pernas. Sentei-me um pouco, já
conseguia ver o Convento de Cristo, foi só esperar uns minutos e estava
operacional.
Cheguei a Tomar. Senti que só faltava um pequeno passo. Podia
acabar a viagem, mas o objectivo era chegar no dia de anos, tipo etapa de
consagração. Fiquei no Hostel 2300, local que recomendo vivamente, pessoal
muito simpático e conceito muito giro. É este o caminho para o nosso território
ter mais qualidade.
Mas o ponto chave da minha chegada a Tomar, era que a Liliana
vinha jantar comigo. Gostei muito de a ver, sentia a falta dela (acho que ela
também já sentia a minha falta, embora a nossa casa de certeza que estava muito
mais arrumada). A primeira coisa que ela me disse "não estás mais
magro!". Eu queixei-me muitas vezes, que era duro, que estava mau tempo,
que fazia muitos quilómetros, mas nunca me queixei de fome (agora a verdade dos
factos, no ano passado na Rota do Guadiana, perdi mais de 5kg em 4 dias, como
aqui eram 7 dias a pedalar, ela fez as contas e estava à espera de me ver com,
aproximadamente, menos 10kg), vinha quase com o mesmo aspecto e não com
aspecto de cão sem almoço.
Jantar, uma voltinha na cidade e dormir. Amanhã era o grande
dia.
Carlos Bernardo
Nascido e criado em Abrantes, onde vive e nunca desejou ser de outro lugar. Apesar disso adora viajar. Mais do que uma foto de viagem, gosta de uma boa conversa. Criou o blog O Meu Escritório é lá Fora! em 2013. Foi nomeado para melhor Blog de Viagens Pessoal, no BTL Travel Blogger Awards, e considerado como um dos 10 melhores blogs de viagem nacionais.
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