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quarta-feira, 1 de junho de 2016

Uma história de: encanto ou desencanto


(crónica de Nuno Gil)

Hoje, vou escrever uma crónica diferente, vou tentar escrever uma história.

Era uma vez uma menina.

Uma menina que adorava praticar desporto, gostava de fazer as habilidades das suas modalidades, mas também gostava de poder praticar outras modalidades. Ela praticava duas modalidades desportivas, uma coletiva e outra individual e ainda participava nas atividades do desporto escolar da sua escola.

Esta menina, em cada uma das modalidades que praticava, tinha um treinador pelo qual tinha maior respeito e admiração, era o seu ídolo.

Ela chegava sempre ao treino em algum tempo antes e durante o treino tinha sempre um sorriso no rosto. Era uma atleta empenhada e cumpridora, capitã nas duas atividades em que participava, era um exemplo para todos.

Mas…

E parece que há sempre um mas.

Esta atleta feliz e empenhada nos treinos, passado algum tempo começou assim que acabava o treino a ir tomar banho o mais rápido possível para poder sair das instalações desportivas ainda mais rápido e começou a cometer erros na  competição, que não lhe eram comuns.

Os seus pais e treinadores questionavam-na sobre o que se passava, mas ela encolhia os ombros e com um ar triste e comprometido dizia sempre que não sabia.

Um dia a menina durante a aula de educação física, disciplina na qual era aluna de excelência, cometeu um erro que não lhe era normal e ficou triste e quase a chorar. O professor estranhou este comportamento e no final da aula chamou-a e questionou o motivo de tal atitude perante o erro. Imediatamente a menina começou a chorar compulsivamente. Agora, alarmado e consciente de que algo de errado se passava, perguntou-lhe se queria desabafar e foi então que esta lhe disse que queria deixar de fazer desporto mas que não tinha coragem de dizer aos seus pais, uma vez que estes gostavam muito que ela praticasse desporto.

O professor desconfiado do que se estaria a passar, perguntou se os pais a pressionavam muito a praticar desporto e a ganhar. Nesta altura, a menina começou novamente a chorar dizendo que não e saiu a correr para o balneário.

Esperando que a menina saísse do balneário, o professor pediu se podia falar com ela, dizendo-lhe que podia falar com ele para que ele a pudesse ajudar. Esta vendo que o professor estava a ser honesto para com ela disse-lhe que o problema não estava nos pais, estava nos treinadores de quem tanto gostava. Confidenciou-lhe que no final de cada treino, cada um dos treinadores pressionava-a a abandonar a outra modalidade, fundamentando que só assim seria muito boa na sua modalidade, quando ela não queria ser muito boa, só queria divertir-se, e que durante a competição os treinadores transfiguravam-se, deixando de ser aquela pessoa que os acompanhava durante o treino para serem pessoas para quem só o resultado conta, pessoas que quando ela ou as suas colegas falhavam as ofendiam verbalmente e diziam-lhes coisas que só as colocavam mais em baixo, quando o que elas precisavam perante os seus erros era de alguém que as apoiasse e as ajudasse a não errar mais.

Por tudo isto, já há muito tempo que não gostava de ficar com as colegas no final do treino, pois sabia que o treinador ia voltar a pedir para abandonar a outra modalidade.

Por tudo isso, já há muito que não gostava de competir, pois não conseguia suportar a crítica e os comportamentos do treinador para com ela e as suas colegas, sendo que este era o caso que mais a afetava, pois muitas vezes o treinador perante o olhar dos pais até incentivava, mas depois assim que conseguisse que estes não ouvissem, mandava logo a sua “boca”.

Por tudo isto, ela queria deixar de praticar desporto. Porque o prazer que os treinos e a atividade em si lhe dava já era menor do que a angústia do final do treino e da competição.

(…)

Poderia continuar a escrever e apresentar um final para este projeto de história, mas deixo essa tarefa para a imaginação de cada um de vós. 

Saudações desportivas e até à próxima crónica.

Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo

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