(crónica de Nuno Gil)
Hoje, vou escrever uma crónica
diferente, vou tentar escrever uma história.
Era uma vez uma menina.
Uma menina que adorava praticar desporto,
gostava de fazer as habilidades das suas modalidades, mas também gostava de
poder praticar outras modalidades. Ela praticava duas modalidades desportivas,
uma coletiva e outra individual e ainda participava nas atividades do desporto
escolar da sua escola.
Esta menina, em cada uma das
modalidades que praticava, tinha um treinador pelo qual tinha maior respeito e
admiração, era o seu ídolo.
Ela chegava sempre ao treino em algum
tempo antes e durante o treino tinha sempre um sorriso no rosto. Era uma atleta
empenhada e cumpridora, capitã nas duas atividades em que participava, era um
exemplo para todos.
Mas…
E parece que há sempre um mas.
Esta atleta feliz e empenhada nos
treinos, passado algum tempo começou assim que acabava o treino a ir tomar
banho o mais rápido possível para poder sair das instalações desportivas ainda
mais rápido e começou a cometer erros na
competição, que não lhe eram comuns.
Os seus pais e treinadores
questionavam-na sobre o que se passava, mas ela encolhia os ombros e com um ar
triste e comprometido dizia sempre que não sabia.
Um dia a menina durante a aula de
educação física, disciplina na qual era aluna de excelência, cometeu um erro
que não lhe era normal e ficou triste e quase a chorar. O professor estranhou
este comportamento e no final da aula chamou-a e questionou o motivo de tal
atitude perante o erro. Imediatamente a menina começou a chorar
compulsivamente. Agora, alarmado e consciente de que algo de errado se passava,
perguntou-lhe se queria desabafar e foi então que esta lhe disse que queria
deixar de fazer desporto mas que não tinha coragem de dizer aos seus pais, uma
vez que estes gostavam muito que ela praticasse desporto.
O professor desconfiado do que se
estaria a passar, perguntou se os pais a pressionavam muito a praticar desporto
e a ganhar. Nesta altura, a menina começou novamente a chorar dizendo que não e
saiu a correr para o balneário.
Esperando que a menina saísse do
balneário, o professor pediu se podia falar com ela, dizendo-lhe que podia
falar com ele para que ele a pudesse ajudar. Esta vendo que o professor estava
a ser honesto para com ela disse-lhe que o problema não estava nos pais, estava
nos treinadores de quem tanto gostava. Confidenciou-lhe que no final de cada
treino, cada um dos treinadores pressionava-a a abandonar a outra modalidade,
fundamentando que só assim seria muito boa na sua modalidade, quando ela não
queria ser muito boa, só queria divertir-se, e que durante a competição os
treinadores transfiguravam-se, deixando de ser aquela pessoa que os acompanhava
durante o treino para serem pessoas para quem só o resultado conta, pessoas que
quando ela ou as suas colegas falhavam as ofendiam verbalmente e diziam-lhes
coisas que só as colocavam mais em baixo, quando o que elas precisavam perante os
seus erros era de alguém que as apoiasse e as ajudasse a não errar mais.
Por tudo isto, já há muito tempo que
não gostava de ficar com as colegas no final do treino, pois sabia que o
treinador ia voltar a pedir para abandonar a outra modalidade.
Por tudo isso, já há muito que não
gostava de competir, pois não conseguia suportar a crítica e os comportamentos
do treinador para com ela e as suas colegas, sendo que este era o caso que mais
a afetava, pois muitas vezes o treinador perante o olhar dos pais até incentivava,
mas depois assim que conseguisse que estes não ouvissem, mandava logo a sua
“boca”.
Por tudo isto, ela queria deixar de
praticar desporto. Porque o prazer que os treinos e a atividade em si lhe dava
já era menor do que a angústia do final do treino e da competição.
(…)
Poderia continuar a escrever e
apresentar um final para este projeto de história, mas deixo essa tarefa para a
imaginação de cada um de vós.
Saudações desportivas e até à próxima
crónica.
Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo
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