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domingo, 21 de agosto de 2016

Uma viagem entre Bragança e Abrantes, feita de Bicicleta. Parte 6


(crónica de Carlos Bernardo)

Dia 5 17/10/2014 Seia - Lousã

 Ia para o 5º dia em cima da bicicleta, já me sentia próximo da minha zona de conforto. O dia de ontem tinha sido bem menos pesado. Acordei bem disposto, as pernas pareciam-me bem e o tempo estava bonito lá fora. Mesmo assim, não deixava de estar na Serra, estava Sol mas estava frio, mas analisando o que passei nos dias anteriores, estava perfeito.

Sigo em direção a Oliveira do Hospital, continuo a seguir pela encosta da Serra da Estrela. É impressionante como tudo muda, estou no mesmo País e mais é pequeno (mas incrivelmente bonito) :) , para os meus olhos era uma mudança quase em câmara lenta, sentia a mudança, esta viagem era feita de pequenas fronteiras.

A saída foi feita a subir, mas sinceramente nem me custou muito, sentia-me bem. Ia aproveitando as últimas vistas para a Serra. Fiz os primeiros 20km a desfrutar. Ia passando por várias pequenas aldeias, até que vi uma espécie de Oásis no deserto. Desde Bragança que me apetecia comer uma pizza, já no dia anterior andei à procura de uma pizzaria (em vão), até já cantava canções do Marco Bellini enquanto pedalava, de tanto pensar nesse famoso prato Italiano (a cabeça é tramada). Pois bem, em Catraia de São Paio, no meio do nada, encontrei a Pizzaria L'Artista, nem pensei UMA vez, parei logo. Como diriam uns amigos meus, foi Mel (ou seja, soube-me muitíssimo bem). A juntar a isso, o pessoal da Pizzaria era muito castiço e com alguma dificuldade me fui embora (demorei lá tanto tempo, que quase dava para lanchar).

Lá segui, feliz da vida. Sabia também, que mais ou menos a partir de ali, o terreno seria bastante favorável (a descer, quero eu dizer). Quase sem dar por ela, já tinha feito mais 50km. Pensava no que já tinha passado, pensava muito nos meus Pais e na Liliana (acho que lhes dei algumas preocupações), sentia a falta deles (muitas vezes, em cima da bicicleta o tempo passa muito mais devagar, para o bom e para o mau sentido), também sentia que estava a chegar o dia dos meus anos e que estava a ficar velho, sentia o apoio dos meus amigos, sentia que tinham algum orgulho em mim e que estavam desejosos que eu chegasse (mais que não fosse para fazer uma festa). Andar e viajar de bicicleta, é muito mais que pedalar.

Enfim, chegava à parte mais difícil do dia, tinha um braço da Serra da Lousã entre mim e a cidade da Lousã e tinha de o ultrapassar. Como não existia nenhum túnel (ainda espreitei), lá tive que subir a Serra. Era inclinado, era. Era difícil, era. Custou-me muito, epá nem por isso. Subia um pouco e tirava umas fotos. Subia um pouco e bebia água nas fontes que me apareciam. Subia um pouco, via alguém e parava para conversar. Quanto dei por mim, já estava no topo da Serra. 

Depois foi quase sempre a descer até à Lousã. Descobrir onde ficava a Pousada da Juventude e pedalar para lá. Cheguei à Pousada, tudo fechado. Pensei "querem ver que isto está mesmo fechado!", lá dei umas voltas ao edifício, já a fazer contas para ficar noutro sítio. Até que empurrei ou me encostei a uma porta e ela abriu, entrei para a Pousada, nem viva alma, mas como estava tudo muito limpinho, abandonado não estava e pensei "bem, mesmo que não venha ninguém, ajeito-me bem aqui sozinho". Resultado final, só havia recepção a partir das 18h00, chegou gente e pernoitei legal na Pousada. Recomendo esta Pousada, bom local para ficar.

Carlos Bernardo

Nascido e criado em Abrantes, onde vive e nunca desejou ser de outro lugar. Apesar disso adora viajar. Mais do que uma foto de viagem, gosta de uma boa conversa. Criou o blog O Meu Escritório é lá Fora! em 2013. Foi nomeado para melhor Blog de Viagens Pessoal, no BTL Travel Blogger Awards, e considerado como um dos 10 melhores blogs de viagem nacionais.

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