(crónica de Carlos Bernardo)
Dia 5 17/10/2014 Seia - Lousã
Ia para o 5º dia em cima
da bicicleta, já me sentia próximo da minha zona de conforto. O dia de ontem
tinha sido bem menos pesado. Acordei bem disposto, as pernas pareciam-me bem e o tempo estava bonito lá fora. Mesmo assim, não deixava de estar na Serra, estava
Sol mas estava frio, mas analisando o que passei nos dias anteriores, estava
perfeito.
Sigo em direção a Oliveira do Hospital, continuo a seguir pela encosta
da Serra da Estrela. É impressionante como tudo muda, estou no mesmo País e
mais é pequeno (mas incrivelmente bonito) :) , para os meus olhos era uma
mudança quase em câmara lenta, sentia a mudança, esta viagem era feita de
pequenas fronteiras.
A saída foi feita a subir, mas sinceramente nem me custou
muito, sentia-me bem. Ia aproveitando as últimas vistas para a Serra. Fiz os
primeiros 20km a desfrutar. Ia passando por várias pequenas aldeias, até que vi
uma espécie de Oásis no deserto. Desde Bragança que me apetecia comer uma
pizza, já no dia anterior andei à procura de uma pizzaria (em vão), até já
cantava canções do Marco Bellini enquanto pedalava, de tanto pensar nesse
famoso prato Italiano (a cabeça é tramada). Pois bem, em Catraia de São Paio,
no meio do nada, encontrei a Pizzaria L'Artista, nem pensei UMA vez, parei
logo. Como diriam uns amigos meus, foi Mel (ou seja, soube-me muitíssimo bem).
A juntar a isso, o pessoal da Pizzaria era muito castiço e com alguma
dificuldade me fui embora (demorei lá tanto tempo, que quase dava para
lanchar).
Lá segui, feliz da vida. Sabia também, que mais ou menos a
partir de ali, o terreno seria bastante favorável (a descer, quero eu dizer).
Quase sem dar por ela, já tinha feito mais 50km. Pensava no que já tinha
passado, pensava muito nos meus Pais e na Liliana (acho que lhes dei algumas
preocupações), sentia a falta deles (muitas vezes, em cima da bicicleta o tempo
passa muito mais devagar, para o bom e para o mau sentido), também sentia que
estava a chegar o dia dos meus anos e que estava a ficar velho, sentia o apoio
dos meus amigos, sentia que tinham algum orgulho em mim e que estavam desejosos
que eu chegasse (mais que não fosse para fazer uma festa). Andar e viajar de
bicicleta, é muito mais que pedalar.
Enfim, chegava à parte mais difícil do dia, tinha um braço da
Serra da Lousã entre mim e a cidade da Lousã e tinha de o ultrapassar. Como não
existia nenhum túnel (ainda espreitei), lá tive que subir a Serra. Era
inclinado, era. Era difícil, era. Custou-me muito, epá nem por isso. Subia um
pouco e tirava umas fotos. Subia um pouco e bebia água nas fontes que me
apareciam. Subia um pouco, via alguém e parava para conversar. Quanto dei por
mim, já estava no topo da Serra.
Depois foi quase sempre a descer até à Lousã. Descobrir onde
ficava a Pousada da Juventude e pedalar para lá. Cheguei à Pousada, tudo
fechado. Pensei "querem ver que isto está mesmo fechado!", lá dei
umas voltas ao edifício, já a fazer contas para ficar noutro sítio. Até que
empurrei ou me encostei a uma porta e ela abriu, entrei para a Pousada, nem
viva alma, mas como estava tudo muito limpinho, abandonado não estava e pensei
"bem, mesmo que não venha ninguém, ajeito-me bem aqui sozinho".
Resultado final, só havia recepção a partir das 18h00, chegou gente e pernoitei
legal na Pousada. Recomendo esta Pousada, bom local para ficar.
Carlos Bernardo
Nascido e criado em Abrantes, onde vive e nunca desejou ser de outro lugar. Apesar disso adora viajar. Mais do que uma foto de viagem, gosta de uma boa conversa. Criou o blog O Meu Escritório é lá Fora! em 2013. Foi nomeado para melhor Blog de Viagens Pessoal, no BTL Travel Blogger Awards, e considerado como um dos 10 melhores blogs de viagem nacionais.
Sem comentários:
Enviar um comentário