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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Ídolos do desporto… mais do que um exemplo uma motivação para a vida


(crónica de Sofia Loureiro)

Num ano em que os portugueses se têm enchido de orgulho por consequentes conquistas, vitórias e confirmações do sucesso de várias promessas na prática desportiva em inúmeras modalidades, é de facto de grande relevância refletir sobre uma ou duas vertentes da importância destas pessoas que pelo seu esforço, empenho, resiliência e talento fazem vibrar uma nação adormecida pelo desânimo aprendido.

Num ano repleto de competições desportivas nas mais variadas modalidades, de âmbito local, nacional e internacional, que culminam este Verão com os Jogos Olímpicos, não falar de ídolos e do seu impacto na vida de crianças e jovens seria uma oportunidade perdida. 

Qual a importância dos ídolos na motivação para a prática desportiva para crianças, jovens e até adultos? Ter um ídolo no qual se revêm pessoal e socialmente tem influência na adesão à prática desportiva? E na estruturação da sua personalidade e construção de identidade? Um ídolo tem impacto no desenvolvimento de maiores capacidades ao nível da resistência ao fracasso e à frustração? Estas e muitas mais questões podem e têm sido exploradas permitindo um contínuo desafio ao desenvolvimento de estratégias de motivação, integração psicossocial de crianças e adolescentes.

A literatura científica oferece-nos estudos em domínios mais abrangentes ou mais específicos, nas mais variadíssimas áreas, procurando de forma cruzada e interligada explorar o impacto de vários fatores no desenvolvimento pessoal e no percurso de crianças e jovens. A título de exemplo, estas investigações internacionais cruzam a percepção que crianças e jovens têm sobre a prática desportiva, as eventuais mudanças que a adesão a uma determinada modalidade proporciona nas suas rotinas, nos seus interesses e no seu percurso de vida, com a contribuição que um ídolo do desporto tem quer nos aspetos anteriores quer na resiliência de crianças e jovens.

Se para uns e outras a palavra resiliência é já um conceito a que se habituaram na sua prática profissional, importa ainda assim clarificar o que significa nas áreas do comportamento humano, na construção da identidade e no percurso existencial de cada pessoa. Resiliência é pois um construto que se define como a capacidade pessoal de adaptação com sucesso a fatores de stress continuado ou agudo. Para mais facilmente se entender a abrangência e importância da resiliência, podemos pensar nas muitas pessoas que vivendo por períodos longos em contextos hostis, de perigo e ameaça à própria vida (o exemplo atual dos refugiados da Síria ou mesmo dos sobreviventes dos campos de concentração da II Guerra Mundial), que conseguem superar as dificuldades e apresentar padrões adaptados de normalidade. Estas muitas pessoas têm elevados níveis de resiliência e por isso ainda que com todo o sofrimento (a muitos inimaginável) vão conseguindo sonhar, sorrir e manter objetivos para atingir.

Como em todas as áreas, na prática desportiva, é possível comprovar a existência de uma relação positiva entre esta e a resiliência. Trocando por miúdos!!!… A prática desportiva regular, nas mais diversas modalidades, pode contribuir e muito, para que promover e desenvolver maiores níveis de resiliência e estabelecer objetivos acionado-se para os atingir. 

Atletas de várias faixas etárias, mas em particular os/as mais jovens e em fase de estruturação da sua personalidade, vão desenvolvendo vários pontos de identificação com treinadores/as e colegas. Este processo de identificação e de criação de laços,  incrementam a adesão e motivação para uma prática desportiva regular, bem como trabalhar em equipa e gerir conflitos - muitas das subcompetências relacionadas com a resiliência. 

Para além dos/as próprios/as treinadores/as e colegas mais experientes, os ídolos que observam nos meios de comunicação e que acumulam sucessos como atletas de alta competição, constituem-se como modelos positivos para os demais jovens praticantes. 

Com exemplos de persistência, talento e profissionalismo como Quaresma, Eder, Cristiano Ronaldo e Joana Marchão no futebol, Telma Monteiro e Miguel Vieira no judo, Emanuel Silva e Francisca Laia na canoagem, Marta Pen, Jessica Augusto, Nelson Évora, Lenine Cunha (atleta português mais medalhado de sempre) no atletismo, Joana Calado e Diogo Carvalho na natação, Gustavo Lima e Sara Carmo na vela, Rui Costa no ciclismo, entre muitos/as outros/as atletas e modalidades, as crianças e jovens ganham um maior incentivo para a prática desportiva e uma maior motivação nos vários parâmetros da vida em geral. 

Estes ídolos, alguns com histórias de vida semelhantes às de muitos outros/as  portugueses/as, através da sua persistência e desempenho, apresentam-se como pessoas bem sucedidas e com valores morais e sociais que são assimilados, transmitindo esperança e desafios de auto-superação. Há pois um processo de identificação por parte das crianças e jovens com esses ídolos e que combinado com competências e talento, empenho, uma boa equipa técnica e bons treinos, facilitará a estabelecer metas para as suas vidas, quer ao nível desportivo quer na sua formação pessoal e social. 

Sofia Loureiro
Psicóloga Clínica
Licenciada em  Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto 
Pós graduada em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva

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