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terça-feira, 1 de março de 2016

Futebol em Abrantes: passado, presente e futuro


(crónica de Nuno Gil)

No passado dia 19 de fevereiro fui, a convite do Carlos Soares, prelector no Workshop “Preparar o Atleta do Futuro”, dinamizado pela câmara municipal de Abrantes e pelo blogue desporto em Abrantes e após a minha apresentação sobre a especialização desportiva, um dos participantes na atividade questionou-me sobre o porquê de atualmente o concelho de Abrantes não ter qualquer equipa de futebol a disputar campeonatos nacionais, quando no passado isso acontecia.

No momento, respondi dizendo que um dos principais problemas é precisamente as pessoas que dirigem o futebol em Abrantes não fazerem essa questão a eles próprios.

Contudo, talvez por estar consciente que a pergunta merece uma resposta mais séria, a questão e a sua resposta tem permanecido no meu pensamento, pelo que vou aproveitar este espaço para tentar responder ao meu amigo Quinó.

Há pouco mais de uma dezena de anos, tínhamos equipas a disputar campeonatos nacionais em todos os escalões onde existia esta competição e atualmente, como já referi, não há representação nas competições nacionais. Porquê? A resposta não é linear.

Primeiro, parece-me haver um conformismo dos agentes desportivos abrantinos, os quais têm a tendência para alegar que atualmente existem mais clubes e que os melhores atletas estão dispersos pelos mesmos. A ser verdade tal pensamento, quer dizer que a concorrência fez com que a qualidade diminuísse.

No entanto, eu discordo com este ponto de vista, pois entendo que a concorrência é amiga da melhoria de qualidade. Como? Fácil. Aumentando a qualidade do trabalho desenvolvido. Se eu, enquanto clube, quero ser melhor, tenho de trabalhar cada vez mais e melhor, não chega ficar a lamentar-me que alguns dos jogadores que entendo serem “os melhores” não estão comigo. Melhorando o trabalho que desenvolvo diariamente com os meus atletas, vou melhorar os seus desempenhos e se os clubes que competem comigo fizerem o mesmo, eu vou ter de melhorar mais ainda e assim duma forma cordial e cooperativa, estou a trabalhar para mim, com a ajuda dos outros.

Mas como podemos aumentar a qualidade do trabalho? Melhorando processos internos e externos. Começando pelos segundos, pergunto: quando foi a última vez que os clubes do concelho se juntaram para debater de forma crítica e construtiva o passado, o presente e o futuro da modalidade na sua área de intervenção? Será que alguma vez se reuniram com este fim? Eu deixo apenas um conselho: se trabalharem uns com os outros e não uns contra os outros, o sucesso está mais perto.

A nível interno, considero vários factores de melhoria, no entanto há dois que são claramente prioritários: a organização interna dos clubes e a formação de agentes desportivos.

Na organização interna dos clubes, é urgente que as pessoas entendam que é necessário deixar o atual modelo de organização, o modelo de ilhas, em que cada equipa é uma estrutura autónoma das outras. Um modelo em que o trabalho efetuado em cada equipa não é realizado em articulação com as outras equipas do clube. Um modelo em que, por vezes, elementos de uma equipa ficam contentes com os piores desempenhos de outra do seu próprio clube. Um modelo em que as equipas por vezes são acompanhadas por uma feira de vaidades dos pais das mesmas.

Relativamente à formação de agentes desportivos, é muito importante que dirigentes e treinadores numa primeira etapa e pais noutra, façam formação para que melhorem o conhecimento sobre as competências necessárias ao desempenho das suas funções no desporto. Dirigentes e treinadores com maior conhecimento, são dirigentes e treinadores com mais estratégias e meios capazes de melhorar o processo de treino. E com melhores processos de treino é esperado que os atletas a eles sujeitos melhorem as suas competências e, por consequência, os seus desempenhos individuais e coletivos. Ao contrário do que é usual dizer, no futebol nem tudo está inventado, novo conhecimento específico da modalidade é produzido todos os dias e para se ser melhor é necessário ter consciência desse novo conhecimento, principalmente por parte daqueles que trabalham com escalões etários mais baixos, onde os erros cometidos podem comprometer irremediavelmente o desenvolvimento desportivo e pessoal dos jovens atletas.

Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo

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