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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Abrantes/Shenzhen - Parte 2


(crónica de Nuno Gomes)

2015 em Shenzhen…
Actualmente sou treinador na Winning League Luis Figo na China, na cidade de Shenzhen. Não deve ser difícil imaginar o quão fascinante é esta experiência, desde a adaptação a uma cultura completamente diferente da nossa, hábitos, clima, alimentação e algo muito importante para o desenvolvimento do meu trabalho. O gosto e o desejo pela prática desportiva, nomeadamente o futebol. 


Estou numa cidade com mais de 15 milhões de habitantes, uma cidade com algum historial no futebol, mas neste momento não tem nenhuma equipa sénior. Tem dois estádios que não têm qualquer tipo de utilização desportiva.


A vinda de treinadores portugueses é para mudar essa conjuntura, trabalho de formação na China, uma vez que o futebol federado começa aos 16 anos. Neste momento o meu trabalho está inserido numa perspetiva de dar bases aos atletas que querem iniciar o seu percurso no futebol, para que o país num futuro próximo consiga mudar o paradigma inerente à formação (ou falta dela) do jovem atleta. É um desafio aliciante com histórias engraçadas como a que quando terminei o meu primeiro treino, que durou 1h30, alguns pais/mães perguntaram se já tinha terminado, porque pensavam que o treino demoraria 2 a 3 horas. É esse o conceito que eles têm do treino, com longa duração e a repetição do mesmo exercício até à exaustão. Após uma conversa com os pais/mães, eles entenderam e já começam a perceber a nossa dinâmica e forma de trabalhar. 


Também existem alguns comportamentos do género um pai a querer entrar no campo para dar comida ao filho, ou mesmo quando um treino está a decorrer e um pai se coloca no meio de exercício para tirar uma fotografia… Não é por falta de respeito, porque isso eles têm até em demasia, é uma questão cultural que cabe a nós, de forma pedagógica, mostrar que não são comportamentos que deverão repetir. 


Os jovens chineses idolatram o Cristiano Ronaldo (C´Lao) e o Luis Figo (Figê), os seus equipamentos personificam isso mesmo, Real Madrid e Barcelona constituem 90% dos equipamentos com os nomes dos próprios estampados nas costas. Não pensei que é difícil chamá-los pelos nomes, pois todos os chineses têm um nome inglês, algo cultural que facilita o nosso trabalho. São muito respeitadores, gostam de treinar e aprender, mas são poucos os que chegam a jogar nos Sub 14, pois com essa idade os pais impõem a escola como prioridade absoluta e não há espaço para outras atividades. 


Respeitando essa metodologia familiar, também é um desafio para nós, treinadores portugueses, demonstrarmos que a aprendizagem motora, não me refiro somente ao futebol, nunca é impeditiva do qualquer sucesso escolar ou pessoal, mas sim um complemento que favorece o crescimento do jovem.

Todos os dias uma aprendizagem, uma aprendizagem diária.

Nuno Gomes 
Licenciado em Ciências do Desporto - Motricidade Humana; pelo ISEIT-Piaget
Mestrando em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário; ISEIT-Piaget
Treinador de Futebol na Academia Winning League Luis Figo - China

1 comentário:

  1. Força Nuno e obrigado pela divulgação da experiência/conhecimento! Abraço

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