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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Atividade desportiva: uma atividade com um princípio que não deveria ter um fim


(crónica de Nuno Gil)

É claramente indiscutível os efeitos positivos da prática de atividades físicas e mais especificamente da actividade desportiva.

Na idade infantil-juvenil (as idades sobre as quais irão incidir as minhas crónicas), os motivos que levam ao inicio da prática desportiva são:
- divertimento e prazer;
- fazer amizades;
- satisfação de pertença a um grupo;
- melhoria de competências motoras.

Mas porque é importante saber quais são os motivos que levam à iniciação desportiva?

Porque todos os agentes desportivos devem nortear a sua atuação com base nos mesmos, em especial pelo divertimento e o prazer.

A pressão pelos resultados, leia-se vitórias a curto prazo, torna todo o processo de treino demasiado "sério" para as crianças, a replicação de treinos de adultos no treino dos jovens desportistas, como se estes fossem pequenos adultos, tornam o treino um espaço desadequado e pouco atrativo e a utilização de linguagem incorreta e socialmente desaprovada, com a desculpa de que faz parte da cultura dessa modalidade, são apenas alguns exemplos de situações não promotoras de divertimento.

Mas não são apenas os treinadores e dirigentes, que pelo seu comportamento podem tornar os momentos de vivência desportiva menos agradáveis para os jovens desportistas, também os pais e amigos, têm por vezes comportamentos não promotores de divertimento e prazer.

São exemplos deste tipo de ações: a criação de expetativas e exigências demasiado elevadas para o jovem, as quais tornam a sua participação desportiva um dever familiar e já que refiro o dever familiar, uma ação que alguns pais exercem sem que tenham a noção das suas implicações é aquela de apenas permitirem aos seus filhos a prática da atividade que os próprios pais querem, por exemplo um pai ex-futebolista obrigar o filho a jogar futebol e não permitir que o filho faça dança, quando é essa a vontade do pequeno.

Mas se é importante saber quais os motivos que levam os jovens a praticar desporto, é igualmente importante conhecer os motivos que os levam a abandonar a prática, em especial quando o abandono significa não só o abandono da modalidade praticada, mas sim o abandono de toda a prática desportiva.

De entre os muitos motivos que levam ao abandono, podem destacar-se:
- a atividade ter deixado de dar prazer;
- a repetição de experiências negativas, nomeadamente comportamentos e atitudes negativas de treinadores;
- o medo de não conseguir corresponder às expetativas criadas por treinadores e pais.

Engraçado, que nem a vitória aparece nos motivos que levam à prática nem a derrota nos motivos de abandono, parecendo que estas têm maior significado para treinadores, dirigentes e pais, do que propriamente para os jovens praticantes.

O conhecimento dos motivos que levam os jovens a praticar desporto e a abandonar essa prática, deviam ser do conhecimento de todos os agentes desportivos, aliás deviam estar escritos em todos os balneários de treinadores e salas de dirigentes, para que fossem lidos diariamente, mas também pais e amigos os deviam conhecer, para que a atividade desportiva, seja uma exceção àquela regra que diz que tudo tem um princípio e um fim, isto é porque, a atividade desportiva deve ter uma iniciação o mais cedo possível e nunca devia ter um fim.

No futuro irei escrever sobre aspetos importantes na perpetuação da prática desportiva.

Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo

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