(crónica de Célia Dias Lopes)
Quando questiono aos clientes que
me procuram em consultório para emagrecer se comem devagar, 90% após um breve
silêncio, confessam que não é uma realidade.
Entramos em piloto automático e
usamos os talheres, mastigamos e engolimos de forma mecânica. É isto que
acontece, não é?
Há muita evidência científica que
demonstra que comer depressa pode resultar num ganho substancial de peso. Mesmo
quando se verifica um consumo de comida saudável, comer depressa pode resultar
num ganho de peso. Até porque comer depressa quase sempre resulta em comer
demais.
Mastigar é importante por várias
razões:
-Primeiro porque permite saborear
os alimentos. É inacreditável como deixamos de apreciar uma boa refeição ao
estar gananciosamente a preparar a garfada seguinte, ignorando por completo a
comida que já temos na boca.
-Segundo porque o processo de
digestão começa na boca, o ato de mastigar e a produção de mais saliva, é
essencial para uma digestão mais eficiente. Se os alimentos não forem bem
mastigados, poderá acabar por se sentir inchado e com flatulência.
-Terceiro porque alerta o resto
do corpo da chegada de alimento.
-Quarto, mas não menos importante, poder dar tempo para o cérebro informar quando já comemos o suficiente. Isto
porque o nosso cérebro é que controla a nossa sensação de saciedade, e só cerca
de 20 minutos depois de começarmos a comer é que o cérebro emite essa sensação.
Se comermos muito rapidamente, podemos estar a comer demasiado sem nos
sentirmos satisfeitos. Só quando nos sentimos enfartados com o nosso estômago
quase a explodir, é que percebemos que comemos demais.
Deve mastigar pelo menos entre
vinte e cinco a trinta vezes cada garfada, mas qualquer número acima de vinte
trará benefícios.
A boa notícia é que pode corrigir
este comportamento com a prática. A má notícia é que, como a maioria dos maus
hábitos, é difícil alterá-los, porque tem que comer com consciência. Entenda
por consciência a atenção que tem que dedicar ao processo de mastigação. Se
verificar que come depressa pode abrandar e mastigar mais vezes.
Então, contar o número de vezes
que mastiga é uma das formas mais eficazes para abrandar e comer menos, encha
menos o garfo, coma com pessoas que comam devagar, pouse os talheres para
conversar e vai ver que vai deixar comida no prato.
Não coma quando está zangado ou
stressado, poderá levar a apressar-se. Por muita pressa que tenha, é má ideia
jantar de pé na bancada da cozinha, à secretária ou no carro.
Em caso de desespero coma com a
mão não dominante, assim, será obrigado a prestar atenção ao que está a fazer e
leva a que coma mais devagar pela falta de prática. Pode também comer com
pauzinhos caso não esteja habituado a fazê-lo, poderá tornar a refeição muito
animada e decerto contribuirá para comer menos de cada vez, uma vez que levará
mais tempo a comer.
Ao mastigar bem, a sensação de
saciedade instala-se mais rapidamente. Não é necessária uma grande força de
vontade para comer menos, isso acontecerá de um modo natural.
Tendo em conta a importância da
alimentação para nos mantermos vivos, devíamos conceder-lhe mais do nosso tempo
e atenção.
Célia Dias Lopes é dietista.
Licenciada em Dietética desde 1997 e pós-graduada em Saúde, Aconselhamento e Tendências de Consumo, ambos pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa.
Sócio-gerente da empresa NutriCuida Consultoria e Nutrição, Lda.
É formadora e consultora na área da nutrição. Autora de inúmeras comunicações em congressos.
Autora do Livro " a e i o u da dieta saudável do doente em hemodiálise".
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas e da Ordem dos Nutricionistas.
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