(crónica de Nuno Gil)
Confesso
que comecei a escrever esta crónica aquando do seminário “Desporto no
Feminino”, que se realizou em Abrantes no dia 6 de março, durante o qual José
Lima, na qualidade de coordenador nacional do Plano Nacional de Ética no
Desporto/IPDJ, apresentou o projeto Cartão Branco/Fair Play, mas por motivos
diversos decidi não publicar a mesma.
Contudo depois de ver na comunicação
social que os funcionários da autoridade tributária e aduaneira vão receber um
prémio por consumarem cobranças coercivas, não resisti a publicá-la. A
atribuição de prémios por desempenho de funções inerentes ao cargo que se
desempenha é algo que não compreendo, nem aceito.
Para
explicar a minha opinião sobre o cartão branco, vou expor uma série de ações/atitudes
que estão associadas ao praticante desportivo e ao treinador, que convido o
leitor a ter especial atenção na leitura.
Ações do praticante desportivo:
- Respeitar
as regras do jogo/competição.
- Recusar
e denunciar a fraude ou manipulação de resultados, defendendo sempre a
verdade desportiva.
- Dar
sempre o melhor na competição, independentemente do adversário.
- Considerar
os adversários desportivos como parceiros e não como inimigos, tratando-os
com Educação
e cortesia.
- Respeitar
o seu próprio corpo, bem como o dos adversários, preservando-os de qualquer
ofensa à sua integridade física e mental.
- Repudiar
a dopagem sob qualquer forma, protegendo desse modo a sua saúde e preservando
a verdade desportiva.
- Reconhecer
o valor dos adversários e felicitá-los quando eles ganham o
jogo/competição. Não procurar desculpas ou guardar rancor pelo facto de ter
sido derrotado mas, pelo contrário, saber utilizar a derrota como fator de
melhoria.
- Aprender
a vencer: manter na alegria da vitória, a humildade e a simplicidade
reconhecendo em cada uma delas o esforço dos vencidos.
- Respeitar
os outros agentes desportivos (dirigentes, treinadores, árbitros e juízes,
etc.) e público/espetadores, em todas as circunstâncias e momentos, nas competições ou fora delas, tratando-os de forma respeitosa e cortês.
- Ser
correcto e respeitador para com as entidades que prestem os serviços
desportivos.
- Lembrar-se
que à medida que vão obtendo melhores resultados maiores serão as
suas obrigações quanto à salvaguarda dos princípios do espírito
desportivo, pois tornar-se-ão um exemplo público de ética para todos,
sobretudo para os mais jovens.
- Conhecer
e cumprir o Código de Ética Desportiva e demais regulamentos de ética e fair
play que regem a sua modalidade.
Ações do treinadores:
- Respeitar,
por todas as formas e em todos os momentos, e de modo igual, os praticantes que
estejam sob a sua alçada, preservando a saúde, a integridade física e mental
dos mesmos.
- Fomentar
o desportivismo entre os praticantes, incluindo nos próprios treinos.
- Respeitar
as regras técnicas do desporto e contribuir para a sua melhoria qualitativa.
- Recusar
e denunciar a fraude ou manipulação de resultados, defendendo sempre a
verdade desportiva.
- Considerar
os seus colegas de atividade como um parceiro no que respeita ao
desenvolvimento das modalidades desportivas que treinam.
- Fomentar
a saudável relação entre todos os colegas de classe.
- Constituir
um modelo ético para todos, sobretudo para os mais jovens.
- Fomentar,
em todos os escalões etários, os valores éticos subjacentes ao desporto e à
vida.
- Opor-se
à utilização de quaisquer substâncias ou métodos proibidos que melhorem
artificialmente o desempenho dos praticantes, nos termos das regras antidopagem
aplicáveis, e à utilização de métodos que não estejam em conformidade com
a ética médica ou com dados científicos consistentes.
- Não
praticar atos que possam prejudicar a saúde e o bem-estar do praticante, bem
como avaliar, e ter em conta as etapas de crescimento e o seu estado de
desenvolvimento, procurando assegurar uma adequada nutrição, tempos de lazer
e de recuperação e uma integração do sistema com as atividades escolares e
sociais.
- Cumprirem
o Código de Ética Desportiva e demais regulamentos de ética e fair play que
regem a sua modalidade.
Agora
que terminou a leitura das ações associadas a cada um dos agentes desportivos
acima referidos, com que ideia fica?
Eu
fico com a ideia de que estas são as ações e atitudes inerentes ao normal desempenho
da função de atleta e de treinador. São ações, que considero indissociáveis das
diferentes funções e que em minha opinião são expectáveis e obrigatórias no
desempenho das mesmas.
Mas
na verdade estas ações são transcrição das ações indicadas pelo IPDJ como as
merecedoras da atribuição de um cartão branco/fair play.
Eu
até aceitava a atribuição de um cartão branco/fair play em situações que fossem
para além das atribuições “normais” de cada um, como por exemplo, um atleta de
maratona que foi sempre em segundo lugar, na reta da meta ver o adversário que
ia à sua frente cair e perante a possibilidade de o ultrapassar e ficar em
primeiro, optar por ajudá-lo a levantar e passar a meta em primeiro, ou um
futebolista perante a marcação duma grande penalidade a seu favor por erro do árbitro, ir junto deste
e informar que está errado, ou um jogador de uma qualquer modalidade perante a
dúvida do árbitro na marcação de uma qualquer infração, ajudá-lo na tomada de
decisão, mesmo que esta seja contra a sua equipa, ou um treinador bater palmas
a uma ação do adversário que pela sua beleza, inteligência ou eficiência seja
digna de tal saudação, mesmo que dessa ação tivesse resultado um golo/ponto ou
mesmo vitória da equipa adversária, ou a um jogador/treinador que perante uma
conduta incorreta do seu público agisse de forma a anular a mesma. Nestas
situações entendo que seja destacada e louvada a ação dos diferentes agentes
desportivos, agora dar mérito extra ao cumprimento das normais funções de quem
desempenha um qualquer cargo, não posso concordar, nem aceitar.
Saudações
desportivas e até à próxima crónica.
“Os homens sem mérito algum, brochados
de insígnias e de ouro, são comparáveis aos maus livros ricamente encadernados.” Marquês de Maricá
Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo
Sem comentários:
Enviar um comentário