(crónica de Sofia Loureiro)
A família assume indiscutivelmente um papel
essencial na prática de exercício físico e da prática desportiva. Pais e mães
há muito perceberam a importância de integrar as suas crianças e jovens em
atividades que promovam o bem estar, o exercício físico e que simultaneamente
funcionem como fatores de proteção para muitas situações de risco.
Acredito que a maioria destes mesmos adultos, pais
e mães, contribuem de forma positiva para esta integração e para o percurso que
cada criança ou jovem fazem no que diz respeito à prática desportiva. Com frio,
chuva ou calor, arrumam os minutos dos finais de tarde ou os sábados e domingos
para acompanharem os filhos aos treinos e competições. Esperam sentados nas
bancadas, nos carros ou não tendo outra alternativa aproveitando para fazer
compras e adiantar qualquer tarefa lá de casa. Correm de atividade em atividade
com amor e dedicação. Fazem o seu melhor e confiam nos clubes, nos dirigentes e
nos treinadores ou professores, a quem deixam os seus maiores tesouros.
Todavia, existem algumas crianças que, para além
dos respetivos treinadores ou professores em cada modalidade, têm ainda os pais
que funcionam como prolongamento dos treinadores, assumindo de forma informal o
papel de co treinadores, treinadores adjuntos ou em casos mais extremos, o
papel de júri expert e crítico
(im)parcial. Acredito que a maior parte destes familiares desempenha este
estatuto de forma pouco consciente, pelo menos no que respeita ao facto de
desconhecerem o quão prejudicial estas atitudes podem ser, na motivação, na
alegria, no prazer e no desempenho das crianças.
Estes são aqueles pais e aquelas mães, que gritam
bem alto instruções durante jogos e competições, mas também aqueles/as que na
ida e na vinda dos treinos e dos jogos, vão orientando e analisando ponto por
ponto tudo o que não pode ser feito e tudo o que tem que ser executado sem
qualquer hipótese de erro. São aqueles pais e mães que só aceitam a vitória, o
ganhar, o vencer a todo o custo. Sofrem as crianças, sofrem os treinadores e
espantem-se... sofrem estes pais e estas mães. Sofrem os filhos porque a
pressão é enorme e o medo de desiludir os pais sobrepõem-se ao prazer de
praticar esta ou aquela atividade. Sofrem professores e treinadores porque o
seu trabalho é muitas vezes minado, os objetivos não coincidem e as
interferências desconcentram atletas e equipas. Sofrem os familiares... porque
vivem em constante ansiedade e raramente satisfeitos.
A estes pais e a estas mães, gostava de lembrar
que os vossos filhos são muito mais do que um golo, um cesto ou um primeiro
lugar. Tentem olhar para lá da vitória. Ouçam as vossas crianças, observem os
vossos jovens. Aceitem as orientações dos professores e dos treinadores. A
essência da glória não está no alcançar da vitória e ou no brilho das medalhas. A
glória está no prazer do esforço e no superar-se a si mesmo. A glória está no
sorriso e nas lágrimas, no companheirismo dos campos, dos pavilhões e dos
balneários. A glória está nos abraços entre atletas que ganham e que perdem e
no olhar terno e único de uma família presente.
Sofia Loureiro
Psicóloga Clínica
Licenciada em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto
Pós graduada em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva
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