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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Pais treinadores... eis (um)a questão!


(crónica de Sofia Loureiro)

A família assume indiscutivelmente um papel essencial na prática de exercício físico e da prática desportiva. Pais e mães há muito perceberam a importância de integrar as suas crianças e jovens em atividades que promovam o bem estar, o exercício físico e que simultaneamente funcionem como fatores de proteção para muitas situações de risco.

Acredito que a maioria destes mesmos adultos, pais e mães, contribuem de forma positiva para esta integração e para o percurso que cada criança ou jovem fazem no que diz respeito à prática desportiva. Com frio, chuva ou calor, arrumam os minutos dos finais de tarde ou os sábados e domingos para acompanharem os filhos aos treinos e competições. Esperam sentados nas bancadas, nos carros ou não tendo outra alternativa aproveitando para fazer compras e adiantar qualquer tarefa lá de casa. Correm de atividade em atividade com amor e dedicação. Fazem o seu melhor e confiam nos clubes, nos dirigentes e nos treinadores ou professores, a quem deixam os seus maiores tesouros.

Todavia, existem algumas crianças que, para além dos respetivos treinadores ou professores em cada modalidade, têm ainda os pais que funcionam como prolongamento dos treinadores, assumindo de forma informal o papel de co treinadores, treinadores adjuntos ou em casos mais extremos, o papel de júri expert e crítico (im)parcial. Acredito que a maior parte destes familiares desempenha este estatuto de forma pouco consciente, pelo menos no que respeita ao facto de desconhecerem o quão prejudicial estas atitudes podem ser, na motivação, na alegria, no prazer e no desempenho das crianças.

Estes são aqueles pais e aquelas mães, que gritam bem alto instruções durante jogos e competições, mas também aqueles/as que na ida e na vinda dos treinos e dos jogos, vão orientando e analisando ponto por ponto tudo o que não pode ser feito e tudo o que tem que ser executado sem qualquer hipótese de erro. São aqueles pais e mães que só aceitam a vitória, o ganhar, o vencer a todo o custo. Sofrem as crianças, sofrem os treinadores e espantem-se... sofrem estes pais e estas mães. Sofrem os filhos porque a pressão é enorme e o medo de desiludir os pais sobrepõem-se ao prazer de praticar esta ou aquela atividade. Sofrem professores e treinadores porque o seu trabalho é muitas vezes minado, os objetivos não coincidem e as interferências desconcentram atletas e equipas. Sofrem os familiares... porque vivem em constante ansiedade e raramente satisfeitos.

A estes pais e a estas mães, gostava de lembrar que os vossos filhos são muito mais do que um golo, um cesto ou um primeiro lugar. Tentem olhar para lá da vitória. Ouçam as vossas crianças, observem os vossos jovens. Aceitem as orientações dos professores e dos treinadores. A essência da glória não está no alcançar da vitória e ou no brilho das medalhas. A glória está no prazer do esforço e no superar-se a si mesmo. A glória está no sorriso e nas lágrimas, no companheirismo dos campos, dos pavilhões e dos balneários. A glória está nos abraços entre atletas que ganham e que perdem e no olhar terno e único de uma família presente.

Sofia Loureiro
Psicóloga Clínica
Licenciada em  Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto 
Pós graduada em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva

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